quinta-feira, 29 de março de 2012

Góticos

A lua cheia fora encoberta pelas nuvens negras que anunciavam uma madrugada de chuva. As ruas do cemitério ficaram mais escuras. O som de botas e de saltos altos quebraram o silêncio que ali reinava. Ana Bella tremia o queixo - a ventania fria a incomodava, de braços cruzados olhava para os cantos escuros das ruas por entre as tumbas. Covas, mausoléus e epitáfios lhe despertavam olhares, a respiração difiícil - era áquela noite o seu batizado.
- Ta frio, e escuro, nossa que coisa...
Observou - com medo e com uma pinta de arrependimento por ter aceitado o deseafio de ter que passar algumas horas no cemitério.
-Ser gótico é gostar da morte, da escuridão e de locais onde os simples mortais não suportam. - Disse-lhe,  alguém do seu grupo. Eram em número de quatro. Duas meninas e dois meninos, e ela, a iniciada no movimento Gótico da turma X, da escola Nossa senhora das Dores.
-Tem que gostar da morte, do escuro, de coisas sombrias...
-É isso...
Disse Maria, umas das que se vestia de preto, batom preto e sombras pretas nos olhos. cabelos lisos e em desalinho. Roupa preta com um par de botinhas pretas.
Ficara firme no seu propósito - observando o pequeno grupo indo embora, deixando-a entregue à própria sorte por entre covas. Morcegos davam vôos rasantes pela sua cabeça e o vento uivante era a sinfonia para o batizado de coragem e de conquista daquelas amizades. Quando escutou o ranger do portão do cemitério e sentiu que os futuros amiguinhos se foram, quando se viu sozinha entre os mortos deu descabelada carreira, gritando:

- Esperem por mim, não me deixem aqui sozinha, tenho medo, só quero a amizade de vocês. Não quero se gótica.
O grupo ja havia dobrado a esquina e o a corrente do portão estava embolada, dificultando a abertura do mesmo.
Duas horas depois, o grupo volta para o cemitério.
- No meu tempo foi diferente.
Observou Maria - o portão ficou aberto e fui logo pra minha casa.
- Enrolei a corrente nos portões meio sem querer.
Disse Zacarias.
Todos a abraçaram, estava dado o batizado.
- Agora, você é uma gótica, uma de nós.
A lua cheia desaparecera do céu. caía uma chuva torrencial - procuraram abrigo na fachada de um mausoléu.

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