sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

As Cercas

Na casa ampla, cercada por um jardim bem cuidado, ostentando uma piscina, ali habita a família Dezgozto. pessoas bem quistas na sociedade. O pai sabe ganhar dinheiro, e a mãe sabe criar os filhos - não fale com estranhos, não divida o lanche da escola com o coleguinha mais pobre, para não criar vicio, e querer te parasitar. Muros altos,cães ferozes soltos à noite pela área. cerca elétrica garantem proteção maior. Um vigia noturno e dois seguranças durante o dia. Uma pistola na gaveta do escritório. Patrimônio vasto, contas bancárias recheadas - os negócios de vento em popa. E uma cerca elétrica separando-os do mundo - a mãe ja criava a sua cercazinha para o filho.
- Querido, a sua tia Belenzinha te ligou na semana passada.
- Na semana passada, e só agora me diz...
Pobre não tem importância, nem digno de um recado é merecedor - pensava a rica senhora.
- No Natal passado fizemos uma linda ceia, daquelas, veio todo mundo - comeram, bagunçaram, sujaram tudo e foram embora. Odeio pobre. No ano que vem, nada de Ceia para eles, não podemos mais nos misturar com essa gente. Somos ricos, somos gente fina, da elite, temos pedigree.
A cerca do dinheiro é muito mais do que eletrificada, cria-se um abismo de dimensões desmedidas que se separa o homem de Deus, o pai do filho, da mãe, da tia e do avô- dizia o pastor para os fiéis na igreja lotada.
Fui numa ceia natalina no ano passado, de um parente rico, e foi ali, que me converti, ali ao ver que jesus veio para o mundo numa manjedoura, numa estrebaria, junto de vacas, ovelhas e cavalos. Eu disse pra mim e pedi a Deus para que me iluminasse, me mostrasse o caminho para fazer sucesso na vida, e hoje sou pastor de ovelhas. Tenho uma vida de conforto, sou feliz.
- Pastor, atravesso a cidade de bicicleta so para ouvir a palavra na voz do senhor que é um homem de Deus, e não esqueço de trazer o dízimo.
Soaram palmas, a igraja em uníssono, para aquele fiel. Ao fim do culto, o pastor saiu num Honda Civic, com destino ignorado, talvez, para um condomínio de luxo à beira-mar. Depois do Natal, ninguém mais é o mesmo, nem depois do ano novo, o ano é o mesmo.  A cerca da religião pode orientar e pode conduzir ao abismo - cego guiando cego.
- Querido, vamos fazer o aniversário da Lia de 08 aninhos, convide aquele seu amigo, vocês so andam juntos.
- Não gosto de misturar as coisas, não gosto de trazer amigos pra minha casa, depois vai procurar intimidades com minha mulher, não sei, não. A nossa amizade é ele la e eu ca.
A cerca da insegurança, da desconfiança reduz a amizade e a irmandade entre as pessoas que se amam.
Muitas são as cercas que circundam as relações humanas, bem eficientes. As cercas protegem e defendem, quando não, afastam, isolam. cada qual com a sua falsa felicidade - cada um por si e Deus contra todos.
 -Vamos fazer um churrasco com a turma do baba.
- Vamos, so vai participar quem colaborar, o André é um bom sujeito, mas vive sem grana, ele tem que ficar de fora.

 As cercas são intermináveis...


 Fim












terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Vampiros e Bruxas

Na noite dos desvalidos, criaturas, que outrora, hibernavam em tumbas empoeiradas e em gélidas cabanas no pântano saem para a noite em busca de realizar desejos sinistros. Filhos do mal, parceiros do senhor das Sombras - se quer tiveram a oportunidade de serem aceitos no inferno.
Vivem entre os vivos em busca de saciar a sede, a eterna sede de felicidade. Os mortos têm o direito ao sono eterno - as criaturas da noite são os malditos da eternidade.

 - Estive entre os Celtas, e venho ao longo dos séculos sustentando uma exisência sem sentido. Conheci a Babilônia dos poderosos, a Macedônia. Estive entre os navegantes que cruzavam os mares, em busca de novas terras e riquezas. participei de grande aventuras, todas voltadas para a conquista do poder ou a manutenção deste. habitei em castelos e em vilas medievais, Assisti os gladiadores no Coliseu romano em sacrifício de sangue de inocentes. Estive por longos séculos na Acrópole grega. Vi a areia do deserto surrar as paredes de pedra das pirâmides egípcias - viajei muito pelo mundo - adentrei pelos palácios hindus.  Andei pela muralha da China. Mesmo na América, fui um pelegrino pelos monumentos astecas, maias.
- Andava muito pelo mundo, homem...
- Sim, em busca de algo, eternamente em busca de algo que jamais encontrei...
Por fim, acompanhei o domínio da Coroa Portuguesa na Colônia conhecida como Brasil. Vi e presenciei os escravos serem castigados e serem libertos. Hoje, encontro-me numa existência que so me faz sofrer, porque não encontro o  eu fim. Pode me ajudar..?pergunto...
 - Sabe que não trabalhamos com mentiras. Não poderemos fazer muito, mas poderemos tentar. Ficamos fascinadas com suas histórias Emannuel, fale-nos um pouco mais de suas andanças pelos séculos. Acho-te  como um deus das eras, um ser de todas os momentos da humanidade. Conheceu todos os poderosos da história da humanidade. isso é fascinante.


- Andei em regiões das mais diversas. Acompanhei a trajetória do Messias pela Judéia, Canaã e demais regiões. A sua crucificação foi injusta, so havia amor em suas palavras - desde áquela época o mal ja me atingia. Eu olhei em seus olhos, clamei em silêncio, e ele por mim nada pôde fazer. Curou cegos, enfermos e coxos - e eu permaneci no meu mal. Assim como convidou o homem rico para que abandonasse ás suas riqueza e o seguisse, pediu a outros que deixassem as famílias e o seguisse, chamou os pescadores a se tornarem pescadores de homens - comigo existiu o silêncio, um olhar e me deu ás costas. Levou consigo o meu primo Judas.

- Na verdade, não temos uma receita, Emannuel, trouxemos-o aqui, porque temos admiração sublime por sua pessoa. Nós não somos tão antigas. temos uma existência longa, mas, breve, se for comparar com sua maldição. Ao fim de mIl anos, perdemos nossas forças e perecemos. 

 - Mas, que maldição, se nada podem fazer por mim, como não puderam fazer os mágicos dos faraós, por quê me trouxeram até aqui... será que eu que vi Moisés guiar seu povo pelo deserto me deixei enganar por uma convenção de bruxas horrorosas, caquéticas, decadentes...?

- Temos poderes mágicos, meu caro. Fazemos feitiços, porções encantadoras que ja seduziram reis, rainhas, príncipes... Fomos provedoras de inúmeros poderes de reinados. Mas somos limitadas em existência, findamos ao longo de Mil anos. Morremos, ja disse. Você é do tempo de Moisés, impressionante isso.
- Droga, velha o que está querendo dizer, fale logo.

 - As bruxas estão sendo devoradas pelo tempo. A Santa Inquisição da igreja Católica foi uma desgraça para nós. Somos poucas, e não queremos que sejamos extintas, homem. Muitas foram as buscas, séculos de pesquisas, até chegar ao seu clã - você foi bisneto de um amaldiçoado personagem de eras antigas.

- Sim, sou da família de Judas Iscariotes, meu primo, mas o que tem isso a ver...?
- Nada, nada... todos nós temos uma descendência de vergonha, eu mesma sou bisneta da Rainha Vitória. Orgulhe-se de ser eterno, Emanunuel. Você é a história viva da humanidade. Deve ter tido paixões, muitas foram as mulheres que possuiu ao longo dos séculos - Sabemos que teve em sua alcova muitas rainhas e princesas, e dizem as más línguas, reis e príncipes.

- Vocês ocuparam o meu precioso tempo com asneiras. Eu quero morrer, deixar de ser eterno - nada podem fazer por mim, saiam de minha frente, irei embora - sou um vaga-mundo.
 - Emannuel, trouxemos-no aqui para que nos inicie, queremos ser vampiros como você e sobreviver ao longo dos séculos. Não queremos mais sermos bruxas. 

 - Acha que vou iniciar nesta maldição criaturas da estirpe de vocês, bruxas enrugadas, feias, asquerosas e fétidas... e sem pedigree?

 E, após um burburinho, em grupo numa demonstração de poderes mágicos extraordinários, as bruxas fizeram seus encantos e viraram lindas e sedutoras jovens.
- Sinto muito, mas não ha pureza em seus seres. O mal que habita em meu ser ja existe em vocês. Que morram ao longo de um Milênio. Em nada acrescentaram na história da humanidade.
 E, trasnformando-se num morcego, Emannuel vôo para longe. A lua cheia brilhava no céu estrelado, como a mais magnífica pérola na abóboda celestial iluminada. Bruxas irritadas, praguejavam aos berros -  voavam em vassouras, dando vôos nervosos, rasantes. Desejaram naquela noite experimentar o calor dos beijos do Príncipe dos vampiros, serem iniciadas, mas o desprezo daquele que ja viveu tudo o que jatinha vivido ao longo dos séculos - e desejava o seu fim sem ter como encontrá-lo - eterna infelicidade, nada de beijos e apertos em bruxas. Para alguém que ja havia beijado Cleópatra, Madalena, a rainha Vitória e a princesa Isabel.







O Eterno Beijo

Uma chuva fina tilintava  no asfalto . Uma ventania sibilava entre os prédios daquele bairro barra pesada. Ruas desertas. A passos largos, Andrea seguia na direção da casa de sua avó materna. Vestia um sobre-tudo e escondia o rosto com o capuz protetor de chuva de peça da roupa - talvez, assim escondesse o seu sexo, e se livrasse da iniciativa marginal de algum desajustado social, que porventura, estivesse disposto a cometer um crime naquela noite tão propícia ao delito contra a pessoa. A roupa folgada escondia as suas formas femininas, fora escolhida de forma intencional.


A cada rua vencida, um alívio angustiante. Pretendia repousar com a avó, que estava meio adoentada. O seu carro estava quebrado. Pegara o ônibus, que a deixou um quarteirão atrás - havia descido, por engano - já que tem um ponto de ônibus defronte á residência de sua avó. Seguia praguejando, e orando - pedia a Deus que a protegesse dos criminosos. A violência é o grande mal do século - aliás, de todos os séculos. Sempre levava na bolsa alguma grana para o ladrão, caso fosse assaltada." Os ladrões espancam ou matam vítimas que nada possuem de valor", avisava sua avó.
Imagina, que vida essa, ter que sair pronta para ser assaltada - vida moderna- segurança pública falida - a qualquer momentyo, pode-se ser assaltada, estuprada,assassinada - pensava.. Seguia reclamando. A chuva crescia em intensidade. Quando ja estava na porta, viu de soslaio, o relance de um vulto a observá-la.

 - Quem está ai...?
- Não precisa ter medo, moça bonita. Sou morador do bairro, sou vizinho.
Soou a tranca , sua avó abriu a porta, de forma vagarosa. Andrea entrou sem dar atenção ao estranho. Rápida, fechou a porta. Sentiu a mudança de temperatura ambiente, se livrou do sobre-tudo, que ja estava enxarcado.
- Minha avó, precisa sair desse bairro, está a cada dia mais violento, sombrio e abandonado pelo poder público. Uma vizinhança...
 - Ora, meu bem, moro aqui há mais de 30 anos, nunca me fizeram mal. Ja vi quadrilhas surgirem, morrerem. Jovens marginais fazer carreira, depois serem presos. ja presenciei todo tipo de violência. Estupros, assassinatos, brigas de vizinhos, confrontos mil entre a polícia e os marginais. Ah, se eu for parar pra te falar, você nunca mais voltará pra falar comigo. Moro num dos bairros mais sombrios da cidade.

 Dizia a velha, com voz rouca, pousada e soltando risadinhas, entre uma frase e outra.
 - Menina, devia ter vindo de carro, ficaria mais fácil, nem precisa dizer, mais uma vez saltou no ponto errado.
Sentaram na sala e tomavam um chá pra esquentar o frio e quebrar o gelo. Era uma senhora de quase 90 anos de idade, lúcida e de forte mobilidade.
- Para quem acha que estou no fim da vida, tenho uma grande surpresa, ainda vou enterrar muita gente.
 Dizia a velha exibindo um largo sorriso na sua enrugada face. A neta permanecia calada, parecia não querer papo. Via as bobagens da tv, e folheava uma revista com notícias das novelas. Olhava a senhora idosa se locomover pela casa, tomar seus remédios, arrumar suas coisas e se aprontar para dormir. Usava meias para dormir, mesmo no verão.

 - Não precisa vir pra ca, eu avisei, aqui é monótono. Não tenho computador nem internet. So tenhos livros na estante. Jorge Luís Borges, Poe, Bukowsky, Jorge Amado, Machado de Assis.. Sua cama ja está arrumada. Tem chocolate com leite e biscoitos na cabeceira de sua cama. Tem frutas, se quiser na fruteira.
Depois de alguns minutos, Andrea resolveu se recolher. Foi no quarto da avó, observou-a deitada na cama. Aproximou-se, sentou na cama, curvou o seu tronco e lhe deu um beijo na face. Ouviu o vento nervoso sacudir a vidraça da janela do quarto, a chuva voltara com intensidade, noite sombria, sem lua.
Saiu do quarto da idosa, com maus presságios, talvez, fosse aquela a sua última noite de sono seguido do amoroso eterno beijo de neta.












quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

No Ir



Na noite dos desvalidos, ele sabia que o inevitável e trágico beijo da morte tocaria os seus lábios, seguido de um abraço gelado- a qualquer momento. Ao sair do seu cotidiano, sentia-se em extase, fugindo de si mesmo, expressando-se ao infinito, esgueirando-se por cenários sombrios – onde o breu das sombras era tão necessário, quanto uma arma em punho, engatilhada. Que tom melhor haveria para o ambiente onde vivia um amigo no ir – não havia aceito o convite para entrar para a sua firma, mas conservou a amizade. E as visitas eram frequentes.
Não era sonho nem pesadelo, apenas mais uma noite daquelas, de máscaras intensas de dor, de escárnio e desespero. O vento frio insistia em sussurrar a palavra morte. Uma inquietante trilha sonora de disparos, temperada com ruídos inaudíveis de palavrões, de ódio profano. Mas  não recuava, insistia em ir a passos trôpegos, inseguros. Aquele não era o seu mundo, o seu refúgio – mas era o seu jogo de xadrez embebido em sensações provocantes, extasiantes.
Feições inesquecíveis o fitavam, mas tinha uma doce como as de Lauren Bacall. Pulsantes ressonâncias escondidas, com cinematográficas mortes. Esfaqueados homens pelo destino cruel de uma vida bandida. Cheiro de pólvora, orifícios na carne maculada. Cheiro de sangue e suor numa pálida noite sem luar. Dólares por tudo, para tudo – dilacerando almas perdidas. Corpos à venda por uma bagatela – para o prazer de muitos. E, ele de espectador.
O local do encontro era uma encenação da paisagem urbana mais assustadora possível daquela longa noite. Ele costumava lembrar o que o amigo lhe dizia: “ já foi tudo vivido, e aos personagens so resta cumprir o destino de  defender a lei, ou o crime.” Desespero de vida e de morte. Heróis de triste fisionomia que fazem o trabalho sujo, mas com grande desculpa. Fazem isso com planos bem urdidos, absolutamente cinematográficos, no ir.
Não sabia como podia deixar a  esposa em casa, seus dois filhos na tranquilidade do lar de um simples operário e sair naquela aventura – era de uma irresponsabilidade desmedida. Queria, sim saborear o perigo, repleto de adrenalina. Presenciara dívidas eternas sendo cobradas à ferro e fogo. Vira homens destinados a morrerem sem glória. Corpos perfurados pelo chumbo, corpos abertos pela navalha assassina - para logo em seguida ser alvo do bisturi do legista, de lâmina gélida e suave. Órgãos pousando em suas mãos, na balança. Homens feito ratos, sem Deus nem o Diabo no coração. Um enterro num cemitério pálido, numa cova rasa – uma encenação fúnebre  de poucos acompanhantes –  posto numa lápide sem importância.
Notícias vermelhas estampadas nos jornais – de ações criminosas que ele presenciara a trama ser feita, planejada ao tilintar dos copos de uísque e sob a fumaça cinza das cigarrilhas. Fortunas nas mãos dos inescrupulosos desajustados sociais, de terno e gravata – com uma arma no bolso. Seguranças truculentos, assassinos frios. Noite boa para se matar e morrer.
- E, então, como foi o seu dia...
- Como sempre, a mesma monotonia de sempre. Descarrego o carro de carne, levo pro açougue, retalho e vendo. Meus clientes, os mesmos velhos e gordas senhoras, de sempre. Termino o dia com a roupa branca encardida do sangue vermelho.
- A sua chegada até aqui...
-Como sempre, tensa, com aquele toque inevitável, mórbido de que seria a minha última visita, mas deu tudo certo, sucesso, cheguei vivo.
O bar funcionava num beco úmido, emporcalhado. Pairava um odor de podre no ar. Um ambiente barra pesada, daqueles. Centenas de caixas de uísque contrabandeado estavam empilhadas ás suas costas. Ali, era frequentado pela escória social. O ambiente era esfumaçado. Palavrões de todos os tipos ecoavam. Algumas bailarinas semi-nuas, ensaiavam movimentos sensuais de quadril. Seios despidos, olhares lânguidos que despertavam prazeres , de toda ordem.
Arrasto uma cadeira, sento. Acendo uma cigarrilha. Entro para o carteado. Sinto-me como se estivesse correndo riscos. Todos estão armados. A polícia poderá chegar a qualquer momento. Estou no esconderijo do meu amigo de infância. A cidade é Chicago, a cidade do pecado e dos crimes violentos. A mulher, de beleza de Lauren Bacall se insinua pra mim, aproxima-se  e me beija na boca. Ele a  afasta da mesa e diz:
- Ele, não, é meu amigo de infância. Deixe-o em paz.
Dou um sorriso de canto de boca, e encho os nossos copos com o uísque, de fabrico particular. Sinto-me importante pela sua amizade . Ninguém sabe, nem a minha esposa, que eu sou amigo de All Capone.


Fim

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Bela e o Rei dos Reis

Jesus circulava pelos arredores pregando, enquanto seguidores de Barrabás, com seu bando de mal-feitores fazia saques e assassinava um  grupamento do exército romano, de emboscada. Barrabás tinha a simpatia do povo, pelas muitas festas que oferecia, com os saques que realizava na calada da noite, ou em cidades desprotegidas pelo exército romano. A Galiléia havia recebido a visita de Jesus, fazia uma semana. O povo o saldou com galho de ramos, como se fosse um rei.

César, estava ansioso pela captura daquele que falava mal do governo romano e pregava o amor e paz. Madalena descansava na Judéia, após ter sido contratada para servir como instrumento de diversão do General Caldélius, da guarda de  Pôncio Pilatos.

Relaxava em uma residência confortável, tomava banho romano, e era servida pela criadagem como se fosse uma rainha. Gostava de beber muito vinho e de comer pão feito na hora pelas mãos das cozinheiras. Entre as suas predilações estava o banho de tina,  - onde dois ou mais criados a molhavam, enquanto o seu corpo relaxava num banho de folhas aromáticas. - Era despudorada - todos eram senhores de sua nudez.

Costumava às vezes ficar por horas a fio desnuda, circulando pela casa, dando ordens - brincava de senhora, ou rainha. Olhos gulosos a devoravam, as mulheres da casa faziam comentários de censura. A criadagem a desejava, pois, tinha corpo escultural, pele de beleza incomparável, de brancura diáfina - cuidava do seu instrumento de trabalho. Tinha um sonho secreto - encontrar um homem de poder, do poder romano e ser uma mulher feliz, como as poucas mulheres que conseguiam obter um modo de vida feliz naquele estado cruel, dominador e escravocrata.

Roma estava sempre em guerra, conquistando todos os cantos do planeta com o seu exército poderoso. Ser a esposa de um General, Capitão, ou até mesmo de um soldado valoroso era um bom negócio. Caso o soldado morresse em batalha, mesmo assim teria o amparo do governo para o resto dos seus dias, e poderia ter um novo casamento, desde que fosse entre os homens que serviam ao exército romano.

A sua fama corria fronteiras, Madalena era cortejada por gente de alta patente - mas, passou a se ver apenas como um brinquedo para relaxar os poderosos da máquina de guerra - e, não era o que queria. Porém, quando estava  a serviço tratava de aproveitar ao máximo, todo o conforto que lhe ofereciam - tinha vida de rainha por onde passava. Muitas vezes, os serviçais de baixo escalão, eram que na verdade se serviam dos seus favores de alcova - um General tem muitas ocupações,e ela queria relaxar e sair do tédio de passar dias e noites sem afazeres, sem nenhuma atividade. Teve o dia que foi obrigada a dançar nua para o General e seus melhores homens, cerca de ciquenta homens famintos, cansados e feridos que passaram meses sem sentir o calor de uma mulher - e, ali teve que passar de mão em mão até que chegasse a total exaustão. Os meses foram passando, e acumulava já mais de 30 dinares, de pagamento pelos seus favores sexuais. Talvez, acumulasse mais de 250 dinares. havia ganho, também, de presente dois camelos, cinco ovelhas, um jumento e algumas mantas. 
Numa tarde de tédio, de sol escaldante, onde as mulheres cuidam de suas vaidades pessoais, estava Madalena cuidando de seu corpo.

- Ele está próximo daqui, dizem que sabe do risco que corre, mas que virá para buscar algo de preciosidade incomparável. Sendo capturado, será um homem morto.
Dizia uma das criadas, enquanto escovava os seus longos e negros cabelos. Tinha tomado um banho de ervas e uma massagem relaxante.
-Quem... - indagava, Madalena, sentindo o carinho dos dedos finos da criada em seu pescoço - num finalizar de massagem.
- O Nazareno, nunca ouviu falar dele...
- Ah, ja, dizem que é um homem santo, outros dizem que é um maluco que desafia o poder de Roma. Temo por ele, com certeza, um dia será capturado e vai ser crucificado.
- Você tem alguma simpatia por ele... Dizem que ele é o Messias, o prometido por Deus para nos salvar.
-Todos gostam dele, pelo o que ouvi falar, ele é um homem diferente. Claro que não desejo o seu mal.
Então, a criada lhe confessou que lhe era simpatizante, era cristã. Seguia os ensinamentos do Nazareno, e era sua colaboradora. Ajudava-o com informações preciosas para que não fosse capturado pelo exército de Roma, e que pudesse fazer as suas pregações pela região. Tratavam de passar informações dos deslocamentos da guarda de Roma.
-Mas, é importante que ele arrisque sua vida falando dessas coisas de amor e paz...
-É, ele veio para mudar o mundo.
-Ele seria capaz de mudar uma pessoa, lhe apontar caminhos para a felicidade...
-Claro, ele é o caminho, a verdade e a vida.
Com a partida do General para o coração da Àfrica, sete dias depois, Madalena foi arrastada pelos cabelos, em praça pública e apresentada a Jesus pelos religiosos daquela localidade, e, então aconteceu aquela conhecida cena da tentativa de apredejamento...disse Jesus para a multidão enfurecida:

-Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados.
Então, todos foram se retirando, um a um, em silêncio, cabisbaixos.
Daquele dia em diante, madalena abandonando a prostituíção, junto-se com a sua mãe, Maria, passou a seguir Jesus, até que foi para a cruz, no Gólgota.Na passagem para o Gólgota, Jesus, ferido lhe confessou:


- Vim para cá para salvar a sua alma, sabia da sua fama entre os homens de poder do exército romano e entre os homens da política.
Agora, faça a sua parte, não me abandone, jamais. Passe tudo o que eu disse por ai.
Maria afastou-se, abraçada com a mãe de Jesus, havia lido nos olhos daquele condenado que a luz nunca morre, e que só o corpo perece.


-Jesus, vamos aguardar o teu retorno, sei que é imortal.
Um soldado romano a golpeou com o escudo jogando-a ao solo, deu duas chicotadas no lombo de Jesus - seguiram para a crucificação.




















sábado, 3 de dezembro de 2011

Epitáfios



- Dalva diz que da janela do seu quarto o vê andando pela madrugada, depois fica sentado num dos bancos da pracinha com se fosse um jovem preocupado com a vida, com o olhar perdido. A janela do seu quarto  fica defronte ao local, onde costuma ficar  esse garoto -, é bem estranho. Ela diz que ele não sai da porta do cemitério da Piedade.Lança olhares para ela, da praça -, vítreos e insistentes.
- E os pais dele não vêm isso...? Estranho demais.

- Não sei, o que sei é que não quero ele andando com a nossa filha, pouco me importa se está apaixonado, sofrendo, perdendo noite de sono por ela. Dane-se. 
Encerrado aquele diálogo noturno, então, resolveram repousar. A madrugada se estenderia, em breve. Gatos pululavam entre os telhados das casas. E, lá estava ela, uma magnífica lua cheia sobre as nuvens, numa noite bela e estrelada. Dalva, ainda estava acordada navegando na internet, como de costume - quando tinha poucos deveres da escola. Tinha um blog, onde escrevia e postava poesias, e contos. Escrevera naquela noite, inspirada na bela noite que avistava da janela do seu quarto.
Falava da lua, das estrelas, da noite e de paixões noturnas e proíbidas. Após finalizar a postagem admirava a sua obra, como se fosse a maior obra-prima criada pela mais talentosa literata.
Dalva era uma menina de poucos amigos. Tímida, de poucas palavras, apesar de exuberante beleza física. Assemelhava-se com a bela e sedutora Merilyn Monroe. O seu quarto era decorado com fotografias dos maiores artistas de cinema da atualidade - com alguns da velha-guarda. Uma estante, ao lado de sua cama estava cheia de livros de suspense, mistério e de alguns romances de historias açucaradas. Fechou o notebook, jogou-se na cama. Os olhos no teto, as mãos em formato de concha na cabeça. Cruzou as pernas e soltou a sua imaginação refletindo a respeito de sua vida na escola e na família. pensou alto: -" eu sou uma tola, e minha vida não tem sentido algum, se não fosse o meu blog..."
Tales, o garoto estranho ergueu-se da cama, estava com o corpo frio, como de costume. Talvez, a sua pressão arterial estivesse mais uma vez alterada, fora do normal. Daquela vez não chamou a sua mãe. Ela lhe daria a mesma resposta, a de sempre. Então, como de hábito, desceu lentamente a escadaria, pulou uma das janelas, e usando a fina e firme árvore como escorregador. Pisando na grama, chegou à praça da Matriz, ali, sentou num dos bancos, e ficou aguardando a noite passar. Um chuvisco fino, de repente caiu, mas não lhe incomodou. Não saiu do banco. Até, que virando o rosto avistou a rua   do cemitério. Aquela não seria uma noite diferente, levantou-se e foi andando lentamente em direção ao cemitério. Queria saber, como sempre, se ali, repousavam figuras distintas da sociedade feirense - mais gente do povo, anônimos, que morreram de todas as formas possíveis. Buscaria saber se existem fantasmas - " será que as almas ficam no cemitério junto ao túmulo, após abandonar o corpo de matéria"? - pensava assim. Uma ventania simplória lhe acariciava o rosto pálido. As ruas estavam desertas - o silêncio da noite era quebrado ao longe, pelo apito do vigia noturno do posto de gasolina, que ficava próximo à praça. O seu cão ladrava a cada soar do apito. A noite seria longa. Tales andava pelos corredores, entre as covas, e lhe chamou a atenção os epitáfios. Foi lendo um a um: " Sê fiel até á morte e dar-te-ei a coroa da vida" - apocalipse 2:8. Andou mais alguns passos e, mais um epitáfio : " Não acenda velas, estou dormindo". Este lhe arrancou um sorriso gelado. Teve mais este: " Nada no mundo pode me fazer esquecer de você, vó, minha rainha. Viver sem você não é viver, é apenas existir". Juliana, 9 anos, neta.
E, este o deixou hipnotizado: " Eu que nunca um so momento, senti paixão pelo ouro, hoje por causa da morte, guardo enterrado um tesouro".
Sentou-se numa tumba, ainda banhado pelos pingos da chuva fina que insistia em molhar a noite. O olhar perdido, no solo, como se fosse o mais desolado dos homens. A respiração, por segundos inexistente,  quase não lhe fazia sentir vivo.
- Oi...
Jamais acreditaria que uma voz feminina soaria às suas costas.
-Eu olhei pela janela do meu quarto e te vi andando pelas tumbas, achei meio estranho. O meu quarto fica no andar de cima e de frente para o cemitério, como você tem passado...?
- Ja andei entre as tumbas de cemitérios de muitos lugares, não é estranho. Gosto de fazer isso, é um dos meu melhores passa-tempo noturno.
- Nossa, isso é muito estranho. Meus pais não querem a nossa amizade. Ja comentei com eles a seu respeito.
- Seus pais não sabem que existem cemitério que são lugares turísticos, que recebem visitantes de todo o mundo..? Ja visitei o túmulo de  Chopin, no cemitério do Pére-Lachaise, em Paris. E vi, também, o jazigo de Allan Kardec.
- Nossa, você ja esteve no exterior, e em cemitérios, você, não sei não.
- Visitei o túmulo de John F. Kennedy, no cemitério Nacional  de Arlington na Virgínia nos Estados Unidos. Admiro o bom gosto na arquitetura dos mausoléus. Em Portugal, visitei o túmulo de Camões. Tem um lindo jazigo.
- Como pode fazer isso, as demais pessoas gostam de viver, são alegres e amam a vida, vão ao shopping, cinema, praia - você parece ter uma irresistível e mórbida atração pela morte.
-Ja estive na Argentina, visitei o túmulo de Evita Peron, fica no cemitério La Recoleta, em Buenos Aires. Eu adoro a morte, o silêncio reinante num cemitério, confesso. escute:
" Je désire
que mes cendres
reposent sur les bords de la Seine
au milieu de ce
peuple français
que j´ai tant aimé".
- Isso em francês ta aonde...?
- No jazigo de Napoleão Bonaparte.

- Nossa, você foi mesmo para esses lugares...é engraçado.
- Estamos sentados no jazigo de uma grande personalidade, Eduardo Froes da Mota, de Feira de Santana. Ah,sim, Monteiro Lobato - estão  os seus restos mortais no cemitério da Consolação, em São paulo.
- Você viu tudo isso na internet, não foi...?
- Veja como quiser...eu posso ir a muitos lugares e sem gastar um centavo. Eu simplesmente, apareço por la, acredite.
despidiram-se após a troca de poucas palavras - frases curtas. O chuvisco fino retornara, de forma pertubadora. Dalva, não sabia avaliar ao certo, quem na verdade era Tales - por momentos, chegou a pensar que ele era desequilibrado, digno de se tratar com um psicólogo, mas, havia sentido muita firmeza nele - naquela paixão pelos cemitérios. Havia o conslo de ter tido uma noite diferente. Nem sabia, ao certo como teve a fortaleza de sair de casa áquela hora da noite e ir encontrá-lo no interior do cemitério. Teve calafrios, quando adentrou pela escuridão, entre as covas, sendo coberta pelas sombras dos jazigos. Sentia um míster de medo e euforia. Nem piscava os olhos ou respirava direito - com o coração em fúria, seguia em busca de encontrar o garoto Tales, que andava a passos curtos, lentos por entre as tumbas. Entrou em sua casa.
A noite seguia. Dalva recolheu-se, custou a pegar no sono. Ergueu-se pela última vez, num impulso de curiosidade e olhou pela janela na direção do cemitério. Tales não foi mais avistado. Soava ao longe o apito do vigia noturno, seguido do latido do seu cão, latidos nervosos. A chuva de verão estava passando.
Na manhã ensolarada, o vigia noturno, antes de ir repousar em sua casa, após uma longa noite fria, dirigiu-se este até á casa da menina Dalva. Antes de tocar a campainha, foi surpreendido pelos seus pais, que saiam para a labuta do dia a dia.
- Bom-dia, eu quero falar algo para os senhores, é sobre a menina, a filha dos senhores...
- Pode dizer, temos pressa, o que há...?
Retrucou a sua mãe, com ares de nervosismo.
- A menina ontem à noite estava circulando pelo cemitério, indo de tumba em tumba. Passeava, com tamanha desenvoltura pela escuridão que me deixou surpreso. Vocês têm algum parente enterrado lá..?
- Não...
E, seus pais o acompanharam até ao cemitério. Disse o vigia:
- Aqui nesta tumba, ela ficou por longo tempo, sentada e parecia conversar com alguém, porém, não vi ninguém ao seu lado, até pensei que a menina estava em desequilíbrio, após perder um parente que muito ama
E, na lápide estava o seguinte epitáfio: " Vi as belezas da terranunca tive uma amiga de verdade, a minha alma muito cedo sonhou com o céu". Tales Azevedo - 03.09.1980 - 09.07.2000
 



























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