terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Nudez

A nudez é tolerada nas artes.

Nos quadros, desenhos, teatro, no cinema, na televisão. A nudez é tolerada entre quatro paredes, jamais numa praça pública.

A nudez é aceita dentro do banheiro, do quarto, numa praia de nudismo. A nudez é acolhida numa poesia - até mesmo num livro de baixa literatura, literatura elevada, comum e até em livros didáticos.

A  nudez pode estar numa escola de belas artes - jamais numa escola de ensino fundamental.

O pai não queria ver a filha  nua, mas, gostaria de ver a filha nua dos outros. A nudez não é tolerada numa cidade de gente dita civilizada, mas a nudez é aceita uma tribo de indios.

A nudez seduz, excita, instiga, desperta desejos comuns, normais e, até proíbidos, mas a nudez é agressiva mais do que qualquer crime.
Podemos ver a nudez das mãos, dos pés, rosto, braços - e até bundas e coxas na praia, à beira da piscina. 

Mas não pode a nudez dos seios, da xana. A nudez deve ser coisa de artista, o resto da humanidade não é nem indio.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Vampiro de Feira de Santana

Depois de circular pela velha Europa,  ter uma  breve passagem pela fria Londres, Paulo André, resolveu estender as suas pesquisas e estudos para os países das Américas.
Deixou os EUA, de lado e veio parar no Brasil, no interior da Bahia, na cidade de Feira de Santana. Pesquisava povos que tinham orígens na Europa, em especial, uma família - os Pereiras.

De posse de um brasão, ali estava toda a orígem, dos verdadeiros Pereiras, por que Pereira no Brasil, é brincadeira, tem de bater de pau. De posse de uma árvore genealógica, descobriu que poderia estar em Feira de Santana a  geração atual daquela antiga família  da antiga  Europa, precisamente, da Transilvania. Ali, mesmo, onde se originou a maldição do Conde Vlad - conhecido como o Empalador.

Sabia André, que em Feira de Santana, havia uma antiga lenda urbana, a do lobisomem da Santa Mônica. E, era por ali, que começaria a pesquisar, entre os moradores mais antigos.

Dedicado às suas pesquisas - passava horas a fio, noites, feriados e fim de semana, debruçado sobre antigos manuscritos, livros centenários nas muitas bibliotecas do velho continente. Tinha total fascinação pelos vampiros - o que iria encontrar não sabia ao certo, apesar de tudo, era um obstinado.

Elaborara um projeto que custara, no mínimo 3 Milhões de dólares iniciais para organizações, das mais diversas, para que suas pesquisas fossem financiadas, sem ter que contar com dificuldades financeiras. O que havia conseguido não dava nem para começar. Então deu um golpe nos financiadores, e com o dinheiro subornou funcionários de bibliotecas, museus pelo mundo, cartórios para conseguir farto material de pesquisa.
Havia um elo mundial que ligava a família Pereira com todas as desgraças que havaim acontecido na humanidade, desde Vlad, o Empalador ganhara o poder e destroçara seus inimigos, num passado bem remoto. 


Ali, começava todas as eras de sombras para a humanidade. Queria provar que todo e qualquer golpe de estado, guerras, regimes ditadoriais que haviam se instalado nas Américas tinha orígem na maldição de Vlad, o Empalador. E, para fugir de derrocadas múltiplas, ao longo do tempo, estavam instalados naquela pacata cidade do interior da Bahia, prontos para o retorno triunfal.

Um novo exército estava sendo montado encoberto pelo sol do sertão. A terra estorricada, sem muita produtividade geraria os novos do terror. Mais tarde se tornará mais visível, o tal exército.
 
Consultando moradores octogenários, e até mais velhos de Jaíba, descobrira que ali, também, rondava a figura do lobisomem, e esta estadia do bicho se estendia por diversas cidades pequenas, povoados da redondeza - Coração de Maria, Jacuípe, Anguera, e outras. " Não é um bicho só, não - com certeza, um clã." - racionava assim, enquanto andava pela roça buscando vestígios da fera. "Onde estaria o lobisomem, da Santa Mônica - este, o mais recente em aparições públicas?" - perguntava para os seus botões.
Citavam um tal de madruga, um vigia noturno, era o maior suspeito, só que o mesmo desaparecera sem deixar pistas. Colhera a história  do padre italiano, que desaparecera misteriosamente, depois, sendo encontrado  em pedaços, próximo do rio Jacuípe.
Naquela noite, tivera que gastar certa quantia de sua conta bancária na compra de certo equipamento, o bastante para violar um túmulo no cemitério São Jorge - documentos apontavam que os restos mortais do padre estavam ali. Era uma noite fria na cidade, e em Feira de Santana quando tem noites de lua cheia, é lida demais. Olhou para o céu e via as nuvens num bailado sobre a lua. Uma ventania açoitava as copas das árvores - era uma noite de arrepiar. Só alguém de extrema coragem poderia estar num cemitério. Após o silêncio da coruja, ouviu:
 -Vai precisar de ajuda, moço...
Soou uma voz roca, calma em suas costas, deixando - o arrepiado.






Fim da I Parte

domingo, 27 de novembro de 2011

Delicias da Vizinha

De Lícia 

Do alto ela podia me ver, logo abaixo lavando algumas poucas peças de roupa. Fazia questão de se fazer presente com um som produzido pela garganta, aquele famoso hun-ruun, como se tivesse com o bichinho da garganta - contudo, na verdade queria que eu olhasse para cima e a visse. Eu não resistia e a olhava. E via suas coxas livres da peça de saia curtinha que a cobria, e podia ver a peça íntima, daquela vez, branca. Mas, ja esteve com preta, azul, creme e rosinha - todas pequenas, miudinhas, mesmo. Tentava a todo custo conter àquele poder de sedução que ela exercia sobre mim, mas, era coisa impossível de resistir, e eu olhava e me excitava.
Seu nome não sabia - nem a sua idade, ao certo, mas parecia ter menos de 20. O proíbido é mais gostoso. Todos pensam assim, acho. Seria casada, teria namorado - não sabia ao certo. Eu era novo morador naquele sobrado, raras vezes permanecia em casa, durante o dia. À noite, ouvia a sua voz, chamando pela mãe para ver as cenas da novela, ou reclamando da comida. Nunca vi uma voz de homem, que não fosse a do pai dela, acho que era o seu pai.
Minha roupa era lavada por uma lavadeira - agora, so mandava a metade, deixava algumas peças para lavar, logo pela manhã, quando ela se arrumava para a escola, e ficava do alto me observando. A porta do banheiro da casa dela fica em cima de onde eu ficava lavando. Aquilo me deixava bem excitado. Ela me deixava ver suas pernas grossas, roliças, e a calcinha.
Estranho que não dissesse nada, so me olhasse. Como passei a gostar daquilo, despensei os serviços da lavadeira, e , agora, tinha que lavar todas as peças que sujavam, antes de sair para a batalha do dia a dia.
Caso eu não a abordasse, acho que ela não o faria. Então, naquele dia que os pais delas saíram, e ela tava sozinha em casa, eu olhei pra cima, vi suas pernas, a calcinha, e falei:
- Oi, qual o seu  nome....
Ela : - De... Lícia... quer dizer, Denny Lícia. 
A frase ficou na minha cabeça com a  sonoridade e melodia que ela havia dito DELICIA. Teria sido proposital, uma provocação...
Eu engasguei, uma ereção se insinuou, logo abaixo, formando um volume considerável na bermuda. Então, ela avisou:
- Nem pense em besteiras, eu quero fazer um cursinho de inglês, e tô precisando de grana. Posso lavar suas roupas se quiser, cobro um bom preço. Vejo que ja não dar conta delas. Elas vão ficar alvinhas, uma delícia pra você sentir na pele.

 





terça-feira, 22 de novembro de 2011

Terror & Suspense



Um Furo de Reportagem

O chefe de jornalismo do Folha do Povo era um homem elegante. Trajava sempre camisas de esporte fino, calças Familly Teen - roupa  encontrada em lojas de grife. Usava sapatos da famosa marca Senior Boot, a marca de sapatos predileta dos artistas da tv e da música. Ironicamente, quem lhe dava toda essa elegância era o cargo de chefe de jornalismo de um folhetim policial, lido pelas camadas menos favorecidas - por que a única coisa que pobre lê  é jornal de crimes, ou notícias de futebol.

Manuel gritou pelo nome da mulher mais jovem e mais bonita da redação - ela estava sentada numa mesinha, confabulando com um colega de redação. Ao ouvir o seu nome ser gritado, de forma tão explosiva, tomou um susto, erguendo o rosto direto para sala do seu chefe. O seu coração deu descabelada palpitação - o que viria a seguir?- Refletia. O velhote tinha fama de taradinho-,andava cheio de galanteios pro lado dela. Vivia insinuando que àquela jornalista da tv, e tantas outras jornalistas aconteceram depois que passaram pelas suas mãos - o que realmente, ele queria dizer ao dizer literalmente " pelas suas mãos"?
- Sabia, que sou, Anna,  um homem de bom gosto, e acho que neste jornal tem alguém de gosto semelhante ao meu.
Ana não tentou se quer saber o por quê daquela observação . Arrastou uma cadeira e se sentou à sua frente.
Ele mais uma vez, chamou-a pelo seu nome, e elogiou:
Sabia que você é linda, linda de morrer...
Ela desconversou. Manteve as pernas cruzadas, não ousaria fazer como algumas colegas de redação, que cruzavam e descruzavam as pernas para deixar o velhinho empolgado e ter qualquer tipo de favorecimento - tipo uma folga extra na segunda-feira, ou um aumento de desalário. Ele lançou àquele velho olhar de lobo tarado. Primeiro no seu excepcional par de seios revelados por insinuante decote, depois para suas pernas. Você se chama Anna Linda, mesmo, ou o linda é so...





Anna Linda, era esse mesmo o nome dela, de batismo. Muitos brincavam com seu nome, pois, faziam referências à sua imagem - era linda, linda de morrer, como se dizia. Gostava de ler e foi muito dedicada aos estudos. Sempre tirava boas notas. Estudou inglês e espanhol, como forma de ser uma profissional melhor preparada. Não satisfeita, fez um curso de fotografia, e arriscava fazer alguns desenhos - ela era assim, de tudo queria fazer um pouco.
Estagiava num pequeno jornal  popular, mas queria chegar à tv, quem sabe ser  apresentadora de telejornal, ou ser da equipe de jornalismo de rua. Queria aparecer, ser famosa, e , procurava um furo de reportagem para sair do ostracismo, deixar de ser mais uma estagiária gostosona, cortejada, desejada pelos velho e decadente chefe de jornalismo daquele folhetim, que só era muito lido pelos inúmeros crime que eram registrados em suas páginas - espremendo -o, correria sangue.

Jornal feito para o povo, para os que lêm as páginas de esportes e policial. Ela estagiava ao lado de   Eleno  João, mais conhecido como Jojo, conhecido jornalista policial. Tinha na sua equipe o fotógrafo Zezeu - o homem que mais registrava presuntos na violenta cidade grande. Vísceras expostas pelo golpe da faca, facão. Tiros na testa. Braços decepados e corpos esmagados por acidentes dos mais diversos - "na lata" - era assim que dizia.
Fotos explícitas, com gente vítima de todo tipo de crime, dos mais simples ao mais bárbaro ato contra a vida humana. Esquertejados pobres, e bilionários.
- Gosto do que faço, e estou no rastro do psicopata do Lobato. Sabe, como é, eu queria no início da carreira ser fotógrafo de celebridades, e fazer fotos de mulher pelada, não deu. Cheguei aqui com vinte anos, depois de um curso de fotografia. Fui ficando, fui ficando, e, hoje ja tenho uma dezena de anos fotografando a morte.
Dizia, Zezeu, enquanto arrumava o seu equipamento pra mais um dia de batalha. Vez ou outra, atendia às muitas ligações no celular. Anna tinha a mania de ficar arrumando os cabelos. Fios pendiam de sua testa, cobrindo-lhe os olhos azuis. Vestia-se com fina elegância, saias curtinhas, ou calças jeans justas que desenhavam suas formas. Tinha uma bunda formosa, grande, um par de coxas roliças, longilíneas. Quadril largo, insinuouso - pendente por uma cinturinha fina - de violão.
Uma mulher que era falsa magra, pois, onde devia ter carne, tinha.

Zezeu a esgueirava com olhares discretos, ora no lindo par de seios - eram de forma de avelã, durinhos e estavam sempre desprovidos da proteção de um sutien. Os biquinhos sobressalentes ao tecido. Ele se quer mexiam quando ela andava. Várias de suas blusas tinham decotes generosos que os deixavam quase à vista. Quando estava assim na redação era um senhor nos acuda para todos os tarados de plantão - do porteiro, segurança, motorista aos colegas de profissão. E o velhote tarado, ah, esse seguia da porta de entrada á sua sala de olho no par de seios - seguia se chocando com as pessoas que transitavam pela sala, de olho nos seios dela.
- para onde vamos, mesmo...
Indagou a deliciazinha para o fotógrafo, engolindo na sua pronúncia a interrogação, uma frase solta, palavras delizadas.
- Pra um motel - disse o fotógrafo sem pestanejar.
- O quê, deixa de graça, falo qual vai ser o nosso servicinho hoje...
- Falo sério, ele atacou de novo, fez mais uma vítima.
- Vai economizar nas fotos, dessa vez, não vai... não gosto  muito defotos tão explícitas nos meus textos. Odeio corpos abertos vertendo sangue. Sou uma pessoa sensível...
- Ora, querida, acha mesmo que os leitores  lêem o que escreve, eles adoram é ver fotos de gente morta. Um , ou outro pode ate  ler, para saber dos detalhes da morte do infeliz, mas, o que chama o leitor pra matéria são as minha fotos. O povo é mórbido, sádico.
Anna Linda  fez um muchocho com os lábios, recusando olhar nos olhos do colega de trabalho, pegou a sua bolsa, ali tinha o pequeno gravador, canetas e um bloquinho de anotações, mais o netbook - ainda não ganhava o bastante para ter um tablet, como os demais companheiros de redação. Seguiram para o motel. O carro da redação entrava pelas ruas do subúrbio ferroviário, ruas de terra de chão, casebres de gente pobre nas lateriais. Senhoras gordas desfilavam com suas crianças barrigudas, sujas, de pés descalços e nariz remelento. Porcos funçavam num lixão.

O motel ficava num local ermo, sinistro - não entendia como casais poderiam frequentar tal local.
Ali, no quarto 23 estava o corpo de uma linda mulher. Cabelos loiros, de corpo escultural. Seu corpo apresentava várias perfurações, de objeto contundente, pontiagudo. estava semi-nua, parecia que foi assassinada antes mesmo  da prática do sexo. Tinha um furo na nuca -, sinal de que fora alvejada de forma covarde, por trás. Num local do corpo que a impediria de gritar.
A polícia técnica fazia o seu trabalho, protegia o ambiente da possibilidade de perda de provas, ou de violãção do local do crime. Zezeu era velho conhecido do pessoal da polícia técnica. Tinha livre acesso. Zezeu não deixava nada espacar à sua lente nervosa. Cli,clic, clic, clic...sem parar. O delegado Delgado de Aguiar colhia depoimentos dos funcionários. Seria difícil pegar o culpado.

Fora a mulher assassinada  quem pagou a conta, de forma antecipada, no cartão. Havia trazido o seu assassino no seu carro - o carro estava na garagem - o assassino saíra andando. Nada de câmeras no motel - dizia um funcionário que os clientes não gostavam de serem filmados. O nome do motel dizia tudo Paraíso dos Amantes - e em letras garrafais tinha um neon que dizia - Aqui sua privacidade é total.
Anna Linda, entendia, agora o por quê da sua localização ser num local tão ermo, até perigoso para assaltos.
- E, então, mais uma vítima, mais uma matéria com o óbvio ululante. Ele continuará impune matando belas mulheres, e a polícia segue sem pistas. Colheu algo que possa nos dar uma luz nesse caso...

Indagou Zezeu para a colega. Esta digitava, de forma ágil no netbook, e colhia informações adicionais que foram feitas anteriormente no seu bloquinho de anotações. Anna lhe respondeu que daquela vez, parece que havia algo interessante. Foi informada pela camareira que ao entrar no quarto para arrumar a cama, logo que o casal entrou, como das outras vezes, ele se mantêm no banheiro - um claro sinal de que não gosta de aparecer para os funcionários.

- Normal, um criminoso tende a proteger a sua identidade.
- Nada, não é so isso, esta camareira, assim como a do motel da orla, notou que ele usava um paletó fino, e sapatos lustrosos, da  marca Senior Boot.
- E isso ajuda em quê, muitas pessoas usam essas coisas numa cidade como essa cheia de shopping, lojas de grife. É como caçar um criminoso por que tava com uma camisa da His ou uma bermuda da Ciclone.
- Sei, mais isso revela que estamos no encalço de alguém de boa condição social, ja fica descartada a hipótese de que o paletó visto pela camareira no crime passado, como o paletó do marido da outra vítima, que ele podia ter encontrado no carro da vítima, pra dar baculejo em busca de algo de valor. A peça de roupa era dele.

Anna Linda queria fazer sucesso na carreira, era visível que perseguia isso. Tinha muita ambição, mas não era de passar por cima dos outros para tal. Teoricamente tinha total preparo - passou a ver de verdade, como era a vida de jornalista, quando foi pras ruas, quando passou a fazer parte da equipe de jornalismo de um jornal - o mais popular dos populares. Ali, notícias de estupros, assasssinatos, sedução de menor, incesto dos mais diversos, seguido de gravidez da filha menor - pais tarados, essas coisas. Crimes diabólicos, de todos os tipos - incluindo, vários esquartejamentos.




- Sei, e quer fazer o quê, pegar o tal psicopata do Lobato?

Disse, Zezeu, ja visualizando previamente as fotos tiradas no local de crime na sua digital. Ali, escolhia as fotos que iram compor a matéria - isso se o chefe não resolvesse meter o dedo.
A matéria saiu, falando de mais um crime no subúrbio, e nada acrescentou à carreira de Anna Linda.
Um psicopata ali, agia. Várias mulheres mortas, de forma misteriosa. Sempre por objeto contundente, cortante e perfurante. Primeiro, um golpe na garganta pra vítima não gritar. Depois o seu corpo era mutilado.

Por vários meses o criminoso vinha agindo, e a polícia não conseguia pegá-lo. De provas, so algumas birras de cigarro de menta de uma famosa marca. Ele não deixava provas outras. Nada de impressões digitais - parecia ter todo o cuidado em apagá-las, era o que parecia. Nada ficava dele em corrimãos, botões de elevadores, maçanetas de portas - nada, nada. Parecia pensar assim: " Todos os merdinhas desta cidade gostam de usar marcas conhecidas."
Anna Linda encontrou o meio para arriscar pegar o psicopata, tramou com o fotógrafo. Esse topou ajudá-la. Vivia de bar em bar e nos locais mais chifrins daquele subúrbio para poder atraí-lo. Não deu certo. Foi mais além, ja que não era de desistir facilmente. Alugou uma casa nas redondezas. A sua beleza estonteante correria de boca em boca, e poderia funcionar assim para ser a isca perfeita. Não deu certo. Depois de 04 meses custeando o aluguel junto com Zezeu, desistiu. Teve que ter habilidade mil pra se livrar dos assédios dos conquistadores baratos dali. Velhos comerciantes lhe ofereceram uma vida de conforto - outros achavam que iria conquistá-la por ter uma moto de 125cc com prestações para 05 anos.

Foi frustrante, mas entendia que vida de jornalista era assim, mesmo. Cheia de sacrfícios, e algumas estratégias que nem sempre davam certo. O sabor do almoço dos pequenos restaurantes do lugar era de papelão.
Foi comprovado que três das mulheres assassinadas eram prostitutas. Uma trabalhava numa boite na Av. carlos Gomes, famoso point de travecos, lésbicas e simpatizantes aos sábados, à noite. Duas eram de pista ,na orla.  Anna Linda estava pensando em ficar entre as prostitutas na orla e na Av. carlos Gomes. 06 meses depois, nada. Desistiu. O seu salário foi embora com estadias em hotéis baratos para pernoite, jantares em restaurantes noturnos, desses baratos, táxi. E tudo o que recebera do chefe foi uma gargalhada de deboche. Agora, estava dura e era alvo de gozação dos colegas de redação. Diziam dela : "A investigadora linda, linda de morrer." "Fez muitos programas?" - gozavam outros. Em dez meses o assassino recuara. Teria sido preso por outra modalidade de crime, ou fugira da cidade? indagavam.
Meses depois. 2:oo h da manhã, O telefone tocou, tocou, tocou,tocou...Até que Ana acordou. Com voz embargada, sonolenta, falou o "alô" mais rouco de sua vida.
- Sei que você está ha meses atrás de um furo de reportagem , não é verdade?
- Quem está falando?
- Um furo de reportagem pode mudar a sua vida profissional?
- Escuta aqui...não tem o que fazer, não? Passar trote uma hora dessa da madrugada...
- Falo do pisocopata. Ele voltou a atacar. Sei como lhe dar pistas.
O estranho do outro lado da linha foi convincente o bastante para retirá-la da cama ás pressas. Arrumou os cabelos passando as mãos. pegou a bolsa. Ligou para o fotógrafo, marcando o local do encontro, onde estaria o estranho que falaria sobre o psicopata - daria pistas para que a sua identidade fosse revelada, talvez. Decidiu arriscar.
Ela chegou de táxi. O local era ermo. O motorista mentiu quando disse que ficaria aguardando. Assim que ele desceu arrancou com os pneus cantando. Normal, vida de jornalista era isso mesmo, o perigo, o desconforto e péssimos salários. Estava no Lobato, na prainha. A água do mar  exalava um aroma fétido. As ruas eram escuras. Barracos  formando becos sinistros. Havia uma praça cercada por amendoeiras. Um silêncio sepulcral dominava o ambiente. Anna Linda estava tensa, amedrontada.
Então, ele chegou antes do fotógrafo.
- Eu conheço jornalistas, sei que deve ter chamado o fotógrafo para para fazer um registro...como vou confiar em você assim?
- Não o chamei, escute, eu até pensei, mas ele se quer atendeu o telefone...
-Você quer fazer sucesso como jornalista. Conheço jornalistas, querem aparecer mais do que a matéria...
- Escute amigo, se não tem nada de útil, vou-me...
- O jornalista,bah. Vocês são de ego do tamanho do mundo. Boa merda é um fotógrafia não é? Quem é o fotógrafo? Apenas um profissionalzinho de merda que fotografa vítimas sanguinolentas...
- Eu vim atrás de um furo de reportagem, não de queixumes. Por acaso, você é , ou tentou ser um fotógrafo?
Então, a lua cheia foi a única testemunha daquele crime. Logo cedo, a imprensa ja fotografava a jovem jornalista, que era linda de morrer  e que andava em busca de um furo de reportagem, e agora tinha um furo no peito. Apenas, mais um crime do psicopata- ou quem, sabe um furo de reportagem.






































sábado, 19 de novembro de 2011

O Olho de Deus


Da  janela do seu quarto podia ver o desenho das pernas dela, tinha parte do seu corpo desnudo pelo lençol alvo. Havia acordado na madrugada, e como àquela parte entre os dois prédios, um vão sempre estava às escuras naquele horário, alta madrugada, por intuíção, resolvi olhar, e vi a janela aberta, a luz acesa e o par de coxas grossas, roliças expostas - a parte da bunda estava coberta pelo lençol.

Acendi mais um cigarro, e continuei olhando, imaginando se ela estava daquele jeito, convidativa para qualquer morador, que porventura, acordasse na madrugada e, acidentalmente olhasse para o vão entre os prédios, ou era mera coincidência.Talvez, ela estivesse acompanhada, e alguém necessitasse estar com a luz do quarto acesa.
Ela mexeu as pernas, o par de coxas se abriu mais ainda, o lençol correu mais. agora, a calcinha miudinha, fio dental tentava a muito custo conter a sua região glútea, uma bunda grande, bonita, na medida. Os prédios eram juntinhos, a noite se desnudava na madrugada - um silêncio sepulcral reinava - ao longe, um ruído,  de um carro que passava em velocidade. O meu sangue estava assim, como um carro ganhando a pista, tomando um rumo desconhecido.

Ela sabia que eu a observava, fazia áquela sedução de forma consciente - ou era so uma displicência, um momento de vacilo entre a vizinhança. Fosse o que fosse, fui me deixando seduzir. Estava interessado em ver mais, e fiz uma loucura. Sai do meu apartamento, conheço muito bem o meu prédio.

Posicionando-me nas escadas do oitavo andar poderia ganhar um vão e ali ficar frente a frente com a janela dela. Abri a porta, de forma silenciosa, deixei-a encostada e desci quatro andares pelo elevador, e mais um pela escada, ali fiquei mais próximo da janela dela, e pude ver o seu corpo em toda extensão.

Estava deitada na cama sozinha, parecia ser solitária, uma moradora nova naquele prédio. Tinha cabelos ruivos, posicionada de costas pra mim. Era muito bela, costas largas, braços esguios.

O que fazer, ficar ali olhando, admirando como se fosse o olhar de Deus, que a tudo ver, mas em nada toca. Num movimento brusco, se desfez do lençol, ficou completamente desnuda da peça fina e alva. Seu corpo era belo, muito belo.

Havia uma distância entre nós, considerável, como se fosse Deus e à Terra. Dois prédios, dezenas e dezenas de moradores, Pensei como Deus naquele momento. 
O que estavam fazendo os moradores naquele horário. Alguns dormiam a sono velado, outros curtiam prazeres desmedidos, de todas as formas - ela dormindo, ou intencionalmete, exibindo-se para Deus e o mundo. Acendi mais um cigarro, a noite seria longa - Talvez, ela tivesse aberto a janela, acendido a luz,  aventurando ter naquela madrugada, alguém que pudesse ter a sorte, de uma noite de insônia, poder vê-la com o olhar de Deus.







sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Dragão da Carlinha

Carlinha nem esperou a mãe largar as sacolas cheias com produtos do supermercado e ralhou:
- Mamãe, coisas estranhas acontecem.
As sacolas foram depositadas em cima da mesinha da cozinha, com força - dois ovos se partiram.
- O que foi, filhinha...
Então Carlinha começou com seus queixumes. Falou dos cabelos, das unhas e das sandálias amarelas. Dizia assim:
- Os meus cabelos estão mais cheios e compridos, as minhas unhas cresceram e as minhas sandálias amarelas não dão mais nos meus pés- elas encolheram, diminuíram de tamanho, isso não é incrìvel...
-Ora, filhinha...
Disse a mamãe, interrompendo a articulação de mais uma frase, por parte da menina. Com o engasgo de um sorriso, retrucou:
-Nada de estranho aconteceu, unhas crescem, cabelos crescem diariamente, e as sandálias amarelas não encolheram, é você mocinha, que tá crescendo.
A menina não encarava a mãe, manipulando um tomate vermelho, desconversou:
- Olha, tem um dragão enorme debaixo de minha cama, a cauda dele é graaandeee, e ele cospe fogo pelas ventas, isso não é estranho pra senhora...
- Normal...
- Normal....- indagou a menina arregalando os olhos, com espanto.
- Sim, normal criança ter imaginação.
Em pouco tempo o almoço estaria pronto. A menina, em silêncio observava a mãe manipulando as coisas da cozinha, e tentava ajudar - enquanto pensava que o dragão poderia a qualquer instante sair debaixo da cama e invadir a cozinha.




















Brincar de Morrer

Diante do caixão, onde estavao corpo inerte de seu vovô, Julinho enxugou as lágrimas que escorriam pelo  rosto angelical de sua mãe. lançou um último olhar para o rosto desbotado, sem vida do vovô,e lançou uma frase fria, perguntou:
- mamãe não chora e me diz, por que as pessoas morrem...
A mãe o tirou dos seus braços, e forçou a sua cabecinha para que encostasse no seu ventre e ficasse de costas para o caixão.
- É o ciclo da vida, a vida tem começo, meio e fim. A gente nasce, cresce, vive  e morre. Ele está bem, vai pro céu.
- Sei, mas a morte é tão triste, você ta chorando. Um enterro é tão triste, o cemitério é tão feio - e ta caindo um chuvisco fino.
- É, mas tudo passa, até o chuvisco vai passar.
- Vou sentir falta do vovô.
- Todos vamos sentir.
E, naquela tarde de domingo,sob um clima de extrema melancolia, o caixão do vovô descia para a sepultura. Julinho, com oito anos, subia para a vida. Liberto dos olhos da mãe corria pelas sepulturas brincando de esconde-esconde com a priminha Dada, de nove anos.












Não Pode

O pai estava sentado no velho sofá com a mão direita  em cima do olho esquerdo, parecia tapar o olho. A tv estava ligada, mas ele parecia não prestar atenção na programação. O trinco da porta virou, a porta abriu, dois policiais entraram na sala, com passos mansos, mãos nas armas. Olhavam para o recinto, como se procurassem por alguém.
- Foi o senhor, moço, que chamou à polícia...
- Foi - respondeu secamente, de olho na televisão.
O pai tirou a mão do olho revelando um olho roxo, inchado e fechado. Falou o pai:
- Não pode bater, pode...
- Não pode, disse a policial feminina,a Tenente.
- Colocar no milho, de castigo, pode...
Disse o pai, com voz embargada, sufocada.
- Não pode - disse a pfem.
- E esse olho rôxo...- indagou o policial, com a mão segurando o cabo da pistola.
- Foi ele...
- Vai dar queixa...- indagou a Tenente.
Depois, de alguns segundos de silêncio, respirando forte, quase sem fôlego, respondeu:
- Ele é menor.
- Por quê ele fez isso...
- Não sei, acho que não tive tempo para educá-lo. Trabalho muito. Quando saio ele  ta dormindo, quando retorno do trabalho ele ja ta na cama. dei uma bicicleta pra ele quando tinha 7 anos de idade. Ensinei-o a andar de bicicleta, depois nunca mais nos vemos, hoje, sete anos depois, quando nos reencontramos, recebi de agradecimento esse olho rôxo.























Caça às Bruxas

 

Cadê a mulher para lavar os pratos
Ta lavando  a poesia
Cadê a mulher pra varrer a casa
Ta varrendo poesia 

Cadê a mulher pra cuidar da casa
Ta cuidando da poesia
Cadê a mulher parida
 
ta parindo poesias 


Cadê a bruxa que tava aqui

Virou uma fada escrevendo poesia








































A Menina da Blusa Branca

Desejada, cortejada - era assim, por onde ela passava, onde  ia um olhar de lobo a acompanhava. Um par de olhos sedentos a buscavam. No geral, direcionado para suas formas. De carne tenra, imaculada. Sedutora, gostosa - seu irmão a chamava de delicinha - e ela, o recriminava -, "pára com isso seo tarado, vou falar pra mamãe." Ela ostentava um par de seios formosos, durinhos. mantinha-os sem a proteção de um sutien, sendo assim, a cada passo dado, eles subiam e desciam embalados pelo rítmo de suas passadas. Os aposentados babavam, e por, alguns segundos esqueciam o jogo de damas e o baralho no tabuleiro descascado para acompanhá-la, a cada passo dado com aquele shortinho que desenhava suas formas de menina - mulher.

Desenvolvia um rebolado natural quando andava. A rua parava para olhar àquela bunda formosa, sedutora - era tão desejada que às vezes se sentia uma rainha. A rua pequena de mão dupla, engarravafa quando ela ia na padaria no fim de tarde, ao por-do-sol buscar o pão morno na padaria do Manuel, um portuga que fazia questão em lhe despachar, no balcão. Ele lhe rasgava inúmeros elogios, e até lhe dava mais um ou dois pães, de quebra.

Enquanto passava o troco, tocava em suas mãos, dedo a dedo - aquilo parecia lhe dar um prazer desmedido. Um simples toque nos dedos tenros, miúdos, de aparência frágil. Percebia-se a excitação no rosto do portuga. O suor lhe molhava o cenho.

- Tchau, até amanhã, talvez, volte, acho que minha mãe vai querer o leite -  esquceu de me dar o dinheiro.
E, todos ficavam na expectativa de que ela retornasse, mas depois de mais de 20 minutos, sabiam que ela não retornaria - mas, ficava na mente de todos da padaria o par de coxas bem torneadas, apesar de não serem longas, eram grossas, o bumbum arrebitadozinho, a barriguinha de fora, durinha, com um piercing, lembrando áquelas dançarinas de dança do ventre. Um par de seios pomposos, apontando para frente - como se pedisse- pegue-me, chupe-me. Estou chegando na linha de frente.

Ela vivia com uma blusinha branca. E, eles e elas travestidos de fantasias, taras,sonhos, desejos proíbidos. Caso pudesse contar, com detalhes, as fantasias com o corpinho dela, seriam trechos inteiramente pornográficos, impublicáveis. Desejavam tocar em sua pele, com sofreguidão, sentir o calor de seu corpinho. Homens e mulheres, Ouvir seus sussurros, gemidos, tirar todo proveito possível para os prazeres da carne. Subtrair sua inocência, iniciá-la nos prazeres proíbidos, maculá-la.
- Menina, não tem vergonha de usar tanto essa blusinha branca, vai tirar esse troço.
Dizia sua mãe, com ares de reclames.
- Ah, mãe, eu gosto tanto dela, é tão gostoso sentir o seu tecido na minha pele.
Tantos a desejavam, tantos queriam o seu corpo. Homens e mulheres, de todas as idades, de diferentes classes sociais. Tantas fantaisias alimentadas, taras, desejos.
Ela, com sua ingenuídade peculiar - mas tinha várias defesas. "Ainda sou muito novinha pra namorar". Imagine, perder a virgindade. Casar, nem pensar. " Só estudo, não trabalho, nem namoro".
A sua blusa branca protegia os seus seios, cobria-os com competência, porém, deixando os biquinhos sobressalentes estenderem-se sobre o tecido fino. Uma peça de pano, sem vida tinha o privilégio de tocar em sua pele, tocar áqueles dois pomos sedutores. Uma verdade se estendia, com o passar do tempo, ficaria desbotada, com linhas soltas, descosturando-se, e seria abandonada num canto qualquer, se quer servindo para pano de chão, e sem poder agradecer de ter tido o privilégio de acariciar os seios diariamente, daquela linda, desejada menina mulher. Nem quero falar da    calcinha vermelha que ela cansou de ter  usado - e que hoje foi parar no lixo - desprezada. Mas, que tivera o provilégio de cobrir e tocar nas parte mais desejada da  princesa da rua de mão dupla - que andava com a blusa branca andando à beira-mar para o pão de cada dia comprar na padaria do portuga Manuel.
















quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Homem Gato

Animal muito querido pelas mulheres a ponto de classicar o homem mais bonito da rua, da escola ou da tv, como sendo um gato. Os gatos não incomodam porque não fazem coco em qualquer lugar, não, pelo contrário, escolhem , no geral um local que contenha areia, e pasmem, eles jogam areia sobre a sua obra numa tentiva de provar para seu dono e para o cachorro da casa que é um animal dócil e limpo. No geral, em uma casa, o gato escolhe apenas uma pessoa para se afeiçoar - é isso, os gatos são seletivos - existe  os que vive numa casa e não querem nada com ninguém, so vive ali, por que tem abrigo e comida. O gato às vezes fica na dele.

Ao contrário do cachorro, o gato não incomoda a vizinhança com seus latidos, pois, os gatos não latem - incomodam um pouquinho quando estão no cio, daí ficam nos telhados caçando as gatas e miando alto pra lua. Nesse período eles incomodam. Mas, mesmo assim, são bem diferentes dos cachorros - um cão, no geral late por qualquer motivo - um saco.
- Eu quero um gato como namorado.
Dizia uma adolescente daquela rua.

- E eu quero um gato para marido, dizia a sua irmã mais velha.
Gato daqui, gato dali, gato em tudo que é lugar.
Depois de muitas viagens por países do oriente, incluindo alguns locais pouco conhecidos, exóticos -  onde havia uma religiosidade muita forte. depois de uma viagem pelo Tibet, Paulo Andrews retorna para casa, trazia nas costas uma mochila cheia de livros antigos, escritos em couro de cabra montanhesa, com tinta feita de sumo de frutas. Não se sabe se os livros foram comprados, ou surrupiados de um algum templo milenar.
Passou meses folheando os livros, trancado em seu quarto a ponto do seu computador criar teias de aranhas e as contas da interner foram se acumulando, até que foi cortada. Nada mais de games, vídeos de mulher pelada, msn, orkut, facebook...

Leu todos os livros, releu. Tinha a impressão que tinha companhias invisíveis a lhe sussurrar palavras de pronúnicia desconhecida ao seu ouvido - e ele as repetia, em voz baixa, quase sussurrada. E, assim a coisa se estendeu por longos dias, noites.O gato era animal sagrado no antigo Egito dos faraós. Vários desenhos sobreviveram ao tempo nas paredes de construções milenares, as pirâmides. Os gatos avisavam quando algo de ruim ia acontecer, ficavam, no geral nervosos, andando em círculo, miando de forma estranha.

As meninas adoram os gatos - homem bonito. Na idade média, as bruxas, as feiticeiras adoravam o gato preto. faziam encantos e bruxarias com a participação do mesmo. Paulo Andrews viajou pela velha Europa. Visitou bibliotecas centenárias, consultou e surrupiou livros antigos de bruxaria. Adentrou em antigas igrejas, e ali, consultou livros empoeirados nas bibliotecas seculares da igreja.
As vozes continuavam a lhe falar, em linguas milenares - celtas e vedas, até. Sussurravam esconjuros, bruxarias, feitiçarias, encantos - e ele, com voz baixa, repetia o que ouvia, por intuíção.
Naquela noite, a doce menina virgem estava com calor, resolveu dormir com a janela aberta. Todos sabiam o quanto ela adorava gatos, os bichanos e o que era homem bonito.Estava triste com saudades do Belusconi, seu gato de estimação que havia sumido - o vizinho era o maior suspeito.

Quando suas pupilas ja pesavam em seus olhos anunciando a chegada de mais uma noite de sono, foi tomada pelo susto ao ver um gato preto, lindo de rabo grande e grosso pular pela janela e lhe lançar um olhar penetrante, conquistador. Ele lambeu uma das patas, sentou-se no parapeito da janela. A doce menina o chamou estendendo os seus braços, e dizendo:
-Vem, bichano, dorme comigo, eu adoro gatinhos, você é lindo, apesar de ser todo preto.
Para sua surpresa, após trocas de mimos, abraços e muita graça, a menina assitiu ao espetáculo mágico só visto nas noites das bruxas, ou nos oráculos das dependências seculares dos mágicos dos faraós.

O gato foi se metamorfoseando, até que se transformou num lindo gato homem, completamente despido. Ela o olhou com pavor, mas não soltou um grito de horror, A lua cheia não era a de uma noite de terror, era uma lua dos amantes, dos enamorados - e ali, ela foi deflorada. Sentiu dor e prazer. Até uma paixão brotou no seu coração, efêmera paixão. Dormiu satisfeita, abraçada com o seu bichinho.

No dia seguinte, ela acordou sozinha na cama, e não sabia ao certo se havia sonhado, ou se vivera aquele momento mágico. Um gato invadiu o seu quarto no momento em que ia dormir e a deflorou com tamanha intensidade que amanheceu se sentindo mulher.
O gato sumiu, e ela até hoje o procura, e avisa para as amigas:
- Menina, caso um gato preto apareça na porta do seu quarto à meia-noite não o deixe entrar, ele pode virar um homem lindo e te deflorar, e o pior é que ele desaparece, e nunca mais.


























Coração de Borboleta

- Eu quero que você hoje me veja na can.
Disse ela à distância, desenvolvendo em seu ser sequioso pela sua carne tenra, e por uma carícia ousada em seu corpo, um míster de tesão exacerbado, com desconfiança. Ela insistiu, instigando-o, fustigando seu ser sedento e faminto pela sua carne imaculada.
- Eu não disse que cedo ou mais tarde, ia ligar a can pra você...

A distância era sua defesa, e para ele um tormento. Sabia que ela estava num momento de tesão, pois estava numa atitude expressiva que não lhe era peculiar - escrevera sem pudor desmedido, a palavra TESÃO, e sem reclamar, como das outras vezes, desenvolvera com ele, lhe dando total atenção às suas descrições repletas de temperos de libido, sensualismo com desejos ardentes. 

Seu coração estava em disparada e seus pulmões ofegantes faziam que respirasse com difculdade. Tudo o que ele queria naquele momento era poder encontrá-la, e fazer para aquela menina uma demosntração de maestria, como se deve dar prazer a uma mulher - menina.

O bate-papo se desenrolou, com total desenvoltura pelo msn - havia alguns dias que se conheceram -, ele se comportava como um lobo, predador de virgens. A todo instante se insinuava, e ela, como sempre esquiva, postura de freira, a ponto dele questionar se ela gostava mesmo de homem, e naquele dia, ela vomitou assim: caso fosse uma freira, seria a freira mais putona do convento.

Naquele dia ele não prolongou o papo, pois ficara surpreso com tamanha mudança de comportamento, questionava se era ela mesmo a lhe falar com caminhos voltados para o sexo, falaram de tudo um pouco, ele saiu mais cedo e foi se recolher, ainda tolhido pela sua imagem na cabeça. Queria muito ter nas mãos os seios medianos que ela tinha. Ela tinha seios medianos que se desenhavam no fino tecido de sua fotografia.
- Eu sei por que você gosta de seios medianos. 
-Então, diga o por quê, quero ouvir de você.

- Eu tenho imaginação fértil, eu sei...você gosta de por ele todo, inteiro na boca, e talvez, o tamanho do seio dê para fazer um jogo de homem maduro, com mulher novinha, não é isso...
Ele trilhou este rumo - "adoro os seus seios" -, ela respondeu que ja sabia disso, que ele ja havia se pronunciado a respeito. Ele tentou desconversar, havia ficado sem graça, talvez, quisesse deixá-la um pouco interessada por sexo, realmente, não brincar de sexo verbal pelo msn. Ela, depois de ouvir muito, falou assim:


- Gosto de sexo pelo sexo, sexo animal, eu sou bem intencional.Nunca quero ter os dois, o sexo e o coração do homem, que estiver comigo na cama.E não gosto muito de ter seios medianos, queria que fossem maiores, enormes. 
Dizia ela, com safadeza desmedida.
- Querida, o sexo é coisa animal, tem sexo por sexo, sim, tesão puro, e pronto. Temos isso em comum, isso me alegrou.

-Assim eu  quero, só com  tesão, sem amor. Não penso, nunca em casamento.
Ela se revelava, apesar dos seus vinte e poucos anos, uma menina ingênua, com muito para aprender, tinha sede demais no seu falar. Havia saído ha pouco tempo da infância, apesar de ter mais de vinte anos, e ele com sua idade ja avançada se deixava seduzir pela cabritinha - estava cheio de desejos proibidos por ela. E, ela mostrando a sua face escondida, cheia de desejos de mulher.


- Sabia que  sonho em me entregar a um homem, mas tenho medo de paixão. Queria so sexo puro, prazeres desmedidos.
Ele foi bem observador, e ralhou assim:
-Minha querida, a paixão, toda ela é passageria, tem até pesquisadores, que ja provaram que a duração da paixão entre duas pessoas não passa de dois anos. Isso mesmo, paixão tem prazo de validade.

Ela ficou algum tempo em silêncio,e em segundos, optemperou assim:
- Caso você fosse um bicho, qual deles gostaria de ser...
- Uma lagarta.
- Por quê uma lagarta.
- Porque as lagartas têm coração de borboleta.
Daquele dia em diante, quando falava com ele à distância, o seu coração acelerava, e sentia em seu corpo reações que só uma mulher sequiosa por prazeres , além de disposições orgânicas que deixavam seus seios medianos instumescidos, com o biquinho saliente, e havia um clamor desmedido entre suas pernas pedindo, pedindo muito. Sentia-se, depois daquele dia, um sapo, quem sabe um passarinho, ou um camaleão, qualquer bicho que pudesse traçar uma borboleta,com prazer, muito prazer.































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sábado, 12 de novembro de 2011

O Saci e a Trainee de Fada

A floresta estava tranquila, tudo corria na maior monotonia. Os pássaros cantavam, ouvia-se ao longe o riacho cair em cachoeira, o vento sibilando nas copas das árvores. os animais passeando pela floresta. Um veado saltitante entre arbustos, um lobo à espreita querendo logo se alimentar de sua tenra carne. Um coelhinho branco saindo e entrando da toca, de forma nervosa e desconfiada. Uma cobra tomava sol, e um jacaré bailava com sua calda enorme na superfície da lagoa. Nuvens alvas passeavam pelo céu azul. Um dia como outro qualquer na verde e bela floresta, até que surge do nada o Saci procurando pelo Caipora.

- Caipora, cadê você companheiro, vamos dar um giro pela floresta, ver  algumas ninfas.
Mas, a caipora não apareceu e o Saci ficou pegando pequenas pedras e jogando nas águas da lagoa, estas assustaram o jacaré, que fez um movimento brusco com a sua longa calda, de reclame.
- Ei, você, que bom encontrá-lo, eu estou sendo XIII Convenção das Fadas e tenho uma missão importante, preciso fazer algo de fenomenal para ser reconhecida com uma candidata preparada para a labuta diária das fadas aqui na Terra da Fantasia.
- E o que eu tenho a ver, senhora, me deixe de fora, eu so um Saci, so o Saci Peerê.
- Eu sei, você deve ser muito infeliz, você so tem uma perna e é negro, feio e deve ser pobre.
- Nossa, como a senhora é observadora. Precisa mesmo de treinamento para se tornar numa fada, não pensa como fada, não fala como fada.
- Eu sei disso, mas sou bem bonitinha, por isso estou aqui, escolhi esta floresta, por que sabia que aqui encontraria a minha grande oportunidade. Vou fazer bem diferente das demais trainee, vou fazer algo de excepcional, extraordinário, jamais visto nos contos de fadas. E, acredite em mim, a minha missão é trazer a felicidade para tudo que ache estranho e bizarro. Que o corcunda de Notre Dame me aguarde, ah, e a Branca de Neve - aquela dorminhoca. Ah, sim, vou aprontar com os sete anões.
- E quem vai ser a cobaia desse experimento...da floresta, por acaso.
- Não.
- Oh, que alívio..
- Eu escolhi você.
- Eu, por quê, eu, logo eu...
- Por que o Curupira não topou, quando me viu ele se mandou.
- Sinto muito, mas também não quero. Fadas inexperientes so trazem problemas, eu acho...
- Você sabe que temos autoridade maior na floresta quando estamos em treinamento. Eu quero fazer algo de novo, que impressione as minhas supervisoras, quero ser a melhor das fadas, fazer história nos contos de fadas. Ser muito mais do que um rostinho bonitinho nas páginas dos contos infantis.
- Olha, moça, o papo ta bom, mas vou indo. Preciso ver como ta a floresta, supervisionar as coisas.
- mas acho uma dificuldade, e uma crueldade da natureza, você ter que andar por toda a floresta com uma perna so e sem ter uma muleta. Coitado do Saci pulando por ai com uma perna só. Ja ouvi dizer que tem criança que se assusta com você, por ter so uma perna, é verdade...
- Não sei, nunca percebi...
- pois, Saci, eu vou fazer um encanto...
- Não, pode parar por, ai, não...
E, antes que o Saci completasse a frase, a fada fez o encanto e o Saci passou a ter duas pernas, como todo mortal na face da terra.
- Mas, moça o que você fez...eu estou com duas pernas
- Eu estou inovando, eu estou conquistando o estrelato, vou brilhar como fada. tem mais, Saci.
E, antes que o Saci respirasse, a fada fez mais um encanto, e...
- Minha nossa, eu estou branco, de cabelos loiros e de olho azul.
- Você agora vai ser feliz, ficou branco,loiro, de olho azul e tem duas...DUAS pernas. Vai até poder ser o protagonista de algum conto infantil, quem sabe, poderá ser o príncipe que beija a bela adormecida, na boca.
O Saci ficou atônito, perdido, nervoso. Quando tudo parecia perdido chegou o Curupira.
- Acalme-se amigo, eu chenguei nem  tudo está perdido.
- Colega, ao menos você continua com os pés voltados para trás, quem é esta senhora com você...
- É a supervisora das fadas, falei pra ela dessazinha ai, que ta aprendendo a ser fada, ela veio supervisionar.
- Veja minha supervisora, que idéia fenomenal eu tive, fiz uma revolução nos contos de fadas, o Saci vai ser branco, loiro, de olhos azuis e ter...
- Duas pernas, minha aluna...
 Indagou com espanto, a supervisora.
- Isso, que tal...
Falou a fada, toda serelepe e muito feliz.
-Estou como, minha supervisora no meu teste...
Indagava, com as mãos sobrepostas e balançando os quadris pra esquerdas, depois pra direita, conservando uma expressão de menina pintona na face muito linda .
Olhando pro Saci, de forma analítica, e vendo mais além do que os olhos podem ver, a supervisora foi taxativa, bradou:
- REPROVADA.






















































quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Carta de um Suícida

Adentrou no prédio antigo, de forma insegura, desanimado, com os ombros caídos. Observou com asco as paredes úmidas, escura pelo mofo. Começou a subir os degraus um a um, com desânimo, a mão direita apoiando o corpo cansado no corrimão - era o desânimo em pessoa, se deslocava degrau a degrau, como se carregasse o mundo nas costas.

Ali, estava a porta do quarto dele. uma porta velha, encardida, se quer fechava direito, mesmo assim inseriu a chave, daquelas antigas, compridas, de cano roliço. Girou a chave - esta soltou um ruído particular, um rangido metálico. Ele empurrou a porta devagarinho, como se aguardasse encontrar uma surpresa desagradável.

O ambiente em  semi-penumbra, entrava uma tênue luz por uma pequena janela. Uma tv antiga estava apoiada num banco tosco de madeira. Embalagens de bombons espalhados pelo chão, birras de cigarro inudavam um cinzeiro num canto, outras birras estavam espalhadas pelo piso da pequena sala.
Dali mesmo pôde ver a bagunça que reinava na pequena cozinha - entrão se recordou do tempo em que morava sozinho na cidade grande, era mais um estudante solitário em busca de uma oportunidade para mudar de vida.

Um sofá de tecido sujo  e rasgado estava em frente da televisão, ele não ousou se sentar ali.
Colocou a mão no bolso e tirou da li um papel embrulhado. Era a carta que havia recebido logo pela manhã, ao buscar as correpondências na caixa dos correios, como fazia toda manhã, a carta estava entre os dois jornais e a revista que assinava.

Ao abrir o envelope viu aquela carta, escrita com letras nervosas, grandes e rasbiscadas. E, ali ele falava de sua decisão em abandonar a vida. Dizia que não suportava mais o grande fardo que era a sua existência. Tinha fracassado em tudo que tentara fazer. Era um fracassado, um derrotado - e motivo de vergonha para os muitos vencedores de sua grande família.

Um dos trechos fazia referências aos muitos sobrinhos e sobrinhas quer tinha, e observava que muitos deles ja haviam se formado em faculdades, ja trabalhavam, eram independentes.

Enfim, cansado sentou-se no velho sofá. Por quê havia mandado a chave do seu quarto junto á carta se não estava ali, difícícil de entender.
falou com seus botões: - como poderia mudar de vida se nunca quis estudar, era um folgado. Preguiçoso, indisciplinado. No inverno, vivedo às custas da mãe aposentada, uma senhora com quase setenta anos de idade, acordava ao meio-dia e reclamando do sal da comida e da falta de refrigerente para acompanhar o almoço.

- Achou mesmo que eu queria me matar...
Falou ele surgindo das ombras. Trajava uma bermuda cansada de varal, pés descalços e dorso desnudo. O corpo continuava atlértico. Os cabelos meio grisalhos, e conservava ainda o frescor da juventude no rosto.
- Achei que ia se matar, sim... a carta era muito sincera.

- Não tenho do que reclamar, tenho a vida que mereço. Algumas pessoas escolhem fazer sacrifícios na juventude e ter uma futura vida de conforto no futuro, assim como fez você.
- Sei, e você tratou de viver se enganado todo esse tempo, vivendo nas costas de uma aposentadoria da velha. Agora que ela se foi vive nessa pendenga, e a solução apresentada é dar fim da própria vida.
-Não, você não entendeu o teor filosófico da minha carta. Te escrevi por dois motivos.
-Quais...

- Primeiro é conseguir te trazer aqui, ha mais de oito anos que não nos vemos. Sem um motivo forte você não viria me ver...
Então ele abraçou forte o irmão mais novo. Um abraço de jibóia, sufocante.

- E a outra é te dizer que o seu suicídio foi mais cedo, agora é que começa o meu. Você sobreviveu, acho que eu vou sobreviver, também. Você matou sua juventude. Eu a vivi intensamente.

Algum tempo depois, o seu irmão mais novo deixou o recinto, acreditando que nunca será tarde pra recomeçar. Tirou a carta embolada  mais uma vez do bolso. rasgou-a e a jogou no latão de lixo que ficava em frente ao velho prédio, vencido pelo tempo. A madrugada seria fria, um vento silencioso beijava o seu rosto, agora, seus passos eram apressados pela calçada emporcalhada pelo lixo social que reina em toda grande cidade.
























terça-feira, 8 de novembro de 2011

 O Ciúme de Deus


Era um estranho no ninho - era assim que se sentia naquela casa grande e cheia de gente. Cinco quartos e um quiantal enorme, com alguns pés de frutas. Ali se isolava observando as aranhas tecendo suas teias por entre os galhos do pé de pitanga. Acompanhava os pombos arrumando seus ninhos e aquecendo os ovos da ninhada. Amava os seus pombos e não gostava quando aquele home de tez escura, usando um chapéu de vaqueiro, com o seu quase cinquenta anos de idade e exibindo um belo sorriso na face, chegar pra comprar os pombos brancos.
 Depois ficou sabendo que os adquiria para trabalhos em terreiro de macumba, serviço religioso de orígem africana. Adorava quando alguns, depois de comprados, de certa forma escapuliam e retornavam. Conhecia-os e os chamava pelos muitos nomes que lhes dava. Xoxo, Danado, Chiquita...
Dentro de casa, muitas vozes, de timbres diferentes, de todas as idades. mais o som de um rádio ligado num programa de músicas romântica, confundindo-se com as vozes que saiam da tv. Vazavam as vozes de alguns vizinhos, com seus reclames, gargalhadas, e uma mulher berrando com o marido.
Era um menino estranho que ja entendia o mundo, a vida, as coisas complexas de uma tenra existência ja marcada pela constentação - reclames com Deus e com o Diabo, sem parar, noite e dia.
Por que, Deus as pessoas morrem, por quê o meu pai tem que viajar e nunca fica muito tempo comigo. Por quê o meu irmão cresceu, logo ele que eu vivia grudado, foi morar longe em outra cidade. Pra estudar tem que ir pra longe, assim, Deus não vou querer, não.
Desde que havia deixado de ser uma criança inocente, buscava diversos refúgios para se livrar da angústia e da solidão. Descobriu os gibis de terror e os de histórias policiais. Colecionava-os, e quando não estava fazendo o dever escolar, lia-os com sofreguidão, isolado ali, num canto da casa, bem reservado para ter maior concentração. gostava de tirar boas notas na escola, ficava triste quando tirava uma nota mediana.
Depois, descobriu o futebol, então, ali fez muitos amigos e desafetos. Brigas, murros, xingamentos, arranhões e pancadas recebidas e dadas. Vida de moleque de rua não é fácil. A casa cheia de meninas, só ele de homem, depois chegaram mais dois, criancinhas. Obrigado, Deus por haver a gravidez - com ela, minha Mãe pôde ficar mais tempo em casa. Ela era falante, reclamava de tudo, mas tinha um amor pela sua prole, que só uma frase resumiria isso: Amor de Mãe, era só isso, amor de Mãe.
Tinha uma preocupação, aliás duas, e se sua Mãe morresse logo, deixando -os, como seria, sabia dizer. E se o pai morresse, ele que vivia mais longe do que perto, trabahando em outra cidade a mais de 120 km. temia um acidente de carro, assaltos na estrada - os filhos crianças, também sofrem assim, e pedem proteção ao outro pai.
A distância, a escola, depois a faculdade roubaram a amizade de meu irmão. Logo ele que eu vivia colado pra cima e pra baixo. O trabalho do meu pai e de minha Mãe me roubaram do carinho materno e paterno eu me sentindo tão so, mesmo com a casa cheia de gente. pensava assim, isolado num canto da casa.

E a casa cheia de gente, oito irmãs,  e dezenas de amigas dentro de casa, no revezamento. Eu lia os livros  dos pensadores, lia os livros dos depressivos, angustiados que achavam a vida um grande fardo. Quem sou eu, de onde vim, pra onde vou. Por quê viver, pra quê....Erasmo de Rotterdam, Maquiavel, Proust. Beaudelaire, Sócrates, Sofócles, Aristóteles, Platão, Freud, Buda ,Bhaktivedanta Swami Prabhupãda,  Jesus...naquela época nem Jesus me respondeu.
É Deus, mas bem que podia ser uma Deusa. O pai so faz, é a Mãe que gera, e dai, cria-se um laço afetivo que a razão não explica. Tenho a certeza que até  pode se um Deus, mas o sentimento que vem é de Mãe.

Naquela tarde  fria de junho, além de frio intenso, uma chuva fina incessante. Lembro que conseguia com facilidade me manter dafastada ela, achava- a chata, as vezes. E, ela tão cuidadosa, cheia de amor pra dar. Eu não entendia o por quê de não conseguir me odiar, mesmo nas ofensas verbais não tinha a sinceridade que vinha do coração - pancada, nunca ela desferiu nos muitos filhos-, nisso ela foi admirável. Lutou tanto pela prole, a ponto de nunca ter faltado o pão de cada dia, em nenhum dia de sua existência. Até mesmo geladinho numa pequena caixa de isopor ela inventou de vender no pequeno box de miúdezas que possuía, por insegurança para poder trazer no fim da tarde o pão, o leite e a manteiga. E quando vendia, chegava com um sorriso na face, e antes de deitar preparava uma nova leva de geladinhos. No verão o sol era intenso, os fregueses de miúdezas, não. Os de geladinho, não faltavam.
Era um estranho no ninho, quando o assunto era amor materno. naquela tarde fria de junho, viu o maior espetáculo da terra, uma demonstração de carinho, sentimento de proteção que jamais um pai faria. Ela aquecia com o próprio calor de seu hálito, a roupa que o pequeno menino iria vestir. Embolava a peça de roupa, levava até a sua boca e a aquecia com hálito, ficava minutos assim.
- Pra que isso, Mãe...
- Pra deixar a roupa aquecida pro meu garotinho.
No dia em que foi a vez dele viajar e ficar longe da Mãe, para estudar e trabalhar, em outra cidade sabia que estava pronto para enfrentar o mundo, ou pelo menos achava que estava - a maior das fortalezas era abdicar para sempre do amor materno. Sabia que seria assim, e foi.
Nunca mais teve no inverno, alguém para aquecer sua roupa fria com o próprio hálito quente. Nunca mais pôde ouvir sua voz, seus reclames, sua palavra de conforto,e os anos passando. Não recordava do dia  que a tivesse abraçado ou beijado no rosto. Não se recordava de ter lhe dito uma palavra de carinho, e os anos passando. |Normal, ele era apenas o filho, estranho seria se ela, que era a Deusa do amor agisse assim, afinal de contas, Mãe é Mãe, e devia se escrever com M. A distância desaquece o amor, e chegava a pensar que assim, Deus ensinava- o a desamar a Mãe para que sobrasse adoração por ele. O irmão mas amado vivia de cidade para cidade, de estado para cidade - e  o amor esfriou- que assim seja Deus, não amo mais ninguém, quer o meu amor so para você, assim será. Pouco me importo aonde ele esteja, o que esteja fazendo, como está..
- Vou fazer os cabelos e pintar as unhas, chame a manicure e marque com a cabeleleira. Meus filhos vêm no domingo me visitar, quero ver todos aqui, comigo. Vai ter cerveja e um almoço, quero a casa cheia de netinhos.
Era inverno, ela iria usar o seu hálito quente para aquecer o frio de todos, mas Deus mais uma vez lhe pregou uma peça, com o seu ciúmes de amor de Mãe, e um dia antes daquele encontro de família, morreu nos braços da filha que lhe dava mais dor de cabeça - e que ela nunca a abandonou, permanecendo junto dela, como fiel protetora.
Deus riu, quando viu que enfim, no seu velório a família estava, finalmente reunida para prestar a última homenagem ao único ser que supera Deus em amor, a Mãe. Para apimentar o ciúme que Deus tem das Mães, O calor do seu hálito permaneceu para sempre, depois daquele dia, no coração de seus filhos. É Deus, Mãe é Mae.




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A Sede & A Fome


Ele chegou em casa suado, cansado, e  estava faminto, mas a ansiedade em se conectar superava toda e qualquer sensação ou incômodo que pudesse ter depois de uma tarde cheia de tarefas de sua labuta diária. Na rua havia sentido a calça jeans suada grudar na sua pele das coxas, a camisa grudar no seu lombo suado.
Descia e subia ladeira carregando uma pasta com mais de 3 kg de papéis, livros, revistas e um talão de nota fiscal. 
Num bolso um celular, no outro um telefone portátil para ligações diversas.
Apesar de no início ter resistido em tirar a roupa e em se banhar, conteve a ansiedade,  foi tomar uma ducha refrescante. O seu corpo pedia , sua alma clamava.

Que delicia sentir a água fria descendo, lambendo sua pele, lavando, revigorando sua disposição. Um prazer indescritível. Ali, se sentiu totalmente novo. Alguém o apressava de lado de fora do banheiro. Não deu atenção às insistentes batidas na porta. 

Deliciou-se com a água como se fosse o corpo doce, da mais desejada amante. Sentia o frio da água com desmedido prazer, lambendo sua pele.
Tentou se conectar, mas o estômago reclamava algo para repor as energias perdidas com intermináveis ligações para clientes - chatos, e às vezes insensíveis aos seus apelos na compra pelos serviços oferecidos. Mas ele não desanimava, sabia que o setor de vendas é assim, mesmo. É para os fortes, os que nunca desistem. Ser persistente, teimoso - até a venda se concretizar. Vender é ter dinheiro nas mãos.
Meu Deus, o que vou comer, esqueci de comprar algo para fazer agora à noite - ele não comprava muitos mantimentos, era solteiro e vivia de refeições rápidas. Até mesmo seis ou oito fatias de queijo, com algumas de presento corriam o risco de mofarem penduradas no desprezo do seu apetite. Muitos pães criavam bolô, pendurados num prego ao lado de sua cama - esquecia de comê-los, comprava mais.
Mais de 30 minutos havia se passado, se quer lembrou que estava morrendo de sede. Era de praxe, logo que entrava em casa ir no bebedouro de plástico e beber um ou dois copos de água natural.
Por sorte, um irmão que havia chegado de viagem lhe perguntou : "tem uma sopa aí, quer..."
Sorveu a sopa com sofreguidão, acompanhada por um pão e uma xícara de esmalte, com café com leite. Observou que na xícara estava escrito: "não roube, o governo não quer ter concorrentes."

Banhado, alimentado- enfim, munido do seu notebook,com a bateria nas mãos, mais um conector projetado com as novas normas de segurança, com 03 entradas, ligou o notebbok, e aguardou os segundos eternos para aparecer a janela da sua operadora de internet. Você está conectado - um alívio.

Mais segundos eternos e de muitos clics para abrir o MSN. E, por fim, viu o quadrinho verde que indicava que ela estava on line. Clics nervosos, e o cumprimento : OI.
Ela, como de outrora, respondeu, com ar de deboche:
-Lá vem você de novo, minha nossa Senhora...Por favor...
- Você sabe que...
Antes que ele completasse, do outro lado, ela, feito vidente ja respondia, escrevendo a sua réplica:
-Já sei, aquela mesma história de sempre...
-Eu não me canso de dizer, mas é verdade, é sério...
-Sei, diz...
-Eu tenho sede de você.
Ele ficou aguardando, por alguns segundos, a réplica dela.
-Já te disse não sou essa água que você quer beber...
- Tenho ...
E, ela mais uma vez ja preparava a sua reposta, antes mesmo dele mandar a mensagem. Ela só obeservava os pontinhos que bailavam na sua janela do msn, indicando que ele escrevia.
- Pára com isso -, dizia ela , quer dizer, escrevia, em resposta antecipada.
-Tenho fome de você.
- Já te disse que não sou  dessa comida que você quer comer, além do mais, nem te conheço.
- É, não entendo, você me oferece uma página em branco todos os dias.
- Ah, tenho sede e fome de escrever...
-  Ligue sua can - pediu ele, com sofreguidão
- Não posso, estou sem roupa, tá calor aqui.
- Mas, as outras ligam  a can, justamente quando estão sem a roupa.
- Eu não...
Ele silenciou, viu que ela não digitava. Ele, com ares de reclame, escreveu:
- Caso existisse um restaurante de gente, você seria o prato mais espacial da casa e a bebida  mais sofisticada.
Ela mandou uma mensagem, dizia que tava às gargalhadas. Completou assim:
- E, você...
- Ia querer COMER e BEBER. 

Lá fora, a lua brilhava, iluminando  as nuvens que passavam num céu sem estrelas. O calor aumentava de intensidade, ela continuava abrindo e fechando páginas, lendo notícias e vídeos. As horas passavam e ele teclava com outras pessoas,amigas, amigos. Abriu e passava alguns emails. Quando ela retomou a conversa, a sua fome e a sua sede aumentaram de intensidade. para provocar, disse que abriu a janela, ligou o verntilador, mas não foi o bastante - havia tirado a calcinha - última peça que resistira a cobrir o seu corpo naquela noite infernal. Ele pediu:
- Ligue a can...
E, ficou longos minutos aguardando, aguardando,aguardando... Pediu uma pizza, da promoção que vem com dois refri de dois litros - estava com sede e muita fome, muita fome e muita sede.





































segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Homem e o Rato

Lá fora a madrugada é fria, nuvens cinzas tingem o céu nebuloso. Galhos de uma árvore seca decoram a rua, como se fosse o cenário perfeito de um filme no ir, de suspense, ou terror.

Não vou dizer que uma coruja soltava seu canto de agouro, porque seria mentira, ou que um morcego  batia suas asas por entre os telhados, mas um rato invadia a sua casa e ia direto para o seu quarto, com habilidade salta no banco e com mais outro, chega até ao alto da mesa e, croc, croc, croc - la mesmo come seus biscoitos.
O ruído provocado pelo roedor lhe rouba do sono, se quer pôde esboçar uma reação, diante do seu corpo cansado, tomado pelo sono. Odiou aquele momento. 

Trôpego, pegou um dos seus livros e o arremeçou contra o roedor, este, com um biscoito nas fuças correu para o buraco na porta de madeira por onda passava todas as noites para roubar comida. Imaginou ouvir o rato soltando uma risada debochada.

Estava cansado de, logo ao se jogar na cama, ouvir uma ou mais baratas se esgueirando pelo chão em busca de pertubar sua noite - assim, como os ratos, odiava as baratas. Não adiantava por inseticida, não adiantava colocar veneno contra ratos - nada adiantava contra essas pragas mundiais.

O homem ja foi à lua, ja foi nas cotas batimétricas dos oceanos, ja fotografou estrelas, supernovas, buracos negros e etc, e nada contra os ratos - eles continuam pelo mundo. 
Roubando e pertubando a noite de sono da gente. E as baratas, as malditas suportam até radiação atômica - seriam os únicos seres sobreviventes após uma catástrofe nuclear. dai, talvez, surgisse uma nova espécie a dominar o planeta.

Uma chuva fina tilintava no asfalto e fazia uma sinfonia no telhado de eternit do vizinho. A parede ao lado da cama ficava umedecida e o frio aumentava. A cama ficava gelada, a coberta fria. Pôs a meia nos pés e vestiu mais uma camisa. Vou tapar o buraco por onde o maldito rato entra. Todos os dias perco um saco de biscoitos.

Este maldito me lembra o meu patrão, um ladrão quando tem que pagar seus credores, ou aos seus funcionários - dizia.
Muitas noites chegou cansado, e abruptamente acordava, por haver esquecido o prato com restos de alimentos em cima da mesa - o malditro rato tirava proveito daquela situação.
E o que fazia, ao surpreender o ladrão de rabo dentro do prato era jogar o prato fora. Achava rato o bicho mais nojento do mundo, só perdia para as baratas. Pôde ver aonde elas vivem e procriam, quando o esgoto ou a fossa tinha que ser abertos, por entupimento.
Acordava cedo, independia que o seu corpo pedisse mais horas de sono.

Tinha que ir trabalhar, era a vida. O transporte coletivo cheio, um sufoco, total desconforto. O salário atrasado, ou muito pouco pra suas despesas diárias, mensais.Levava uma vida de sacrifícios. Poucos eram os prazeres que podia vivenciar. E o rato lhe tirando o sono, roubando os biscoitos de sabor morango, recheados - o que mais saboreava. Vivia sozinho e era obrigado a receber pela madrugada a dentro um rato.

As baratas asquerosas quando sentiam que ele se movimentava com o chinelo na mão partiam em disparada. O rato, não. Ele era pirracento, se escondia em qualquer canto, e dali não saia até que pudesse lhe roubar um biscoito.

O seu sono era a coisa mais sagrada do mundo - o rato lhe tirava o sono, logo um rato a lhe desafiar nos seus mais de um metro e oitenta de altura. Um rato que lhe roubava o sono e seus biscoitos.
Ao ter saido de casa naquela manhã fria, com o corpo pedindo horas de sono, bocejando olhou para o buraco na porta de madeira e pensou com seus botões: "ainda vou poder dormir tranquilo, vou tapar esse buraco".











Agonia Vermelha

Acordar cedo para ir ao trabalho, enquanto o corpo pede mais horas de sono - uma tortura a cada amanhecer. Ter que deixar o calor do cobertor, enquanto o tic-tac do relógio, cruel, impávido cobra que adiante o momento de tirar a meia dos pés. Escovar os dentes, de forma ligeira. Tomar um banho frio - já que não tinha chuveiro elétrico. Sair sem tomar o café da manhã, enquanto se tem dinheiro curto na carteira.

A espera no ponto de ônibus, debaixo de uma chuva fina - e o medo de ser assaltado. Uma senhora vende mingau quente. O cheiro sedutor fê-lo gastar mais um real, antes da chegada do ônibus. A condução chega, e como sempre, cheio como uma lata de sardinha. gente fedida, com os braços suspensos - uma tortura. A condução seguia pelas ruas molhadas e ja se desenhava o engarramento.
Com esforço, consegue andar pelo corredor do veículo, espremido entre bundas enormes de senhoras gordas. Ora, pisava no pé de um, recebia um reclame, um xingamento. Tinha que fazer como um contorcionista para poder se deslocar por entre os passageiros. Conseguia com facilidade, pois, era magro.

Ao saltar do ônibus, vivenciava no seu ser o tédio de ser mais um entre tantos operários da construção civil, sem direito a nada que se relacionasse com conforto, prazer e felicidade. Nada podia ostentar o brilho da classe abastada nos seus olhos - comprar em shopping center, ir ao cinema, comer pipoca.
Ficar na praia tostando ao sol e ter a companhia das vadias que adoram beber, beber cerveja gelada, quer dizer, quente- cerveja gelada na praia não existe. Aproveitava o dia de praia para com uma caixa de isopor para vender cerveja em lata e complementar a renda. Vendia uma cerveja e comia as gatinhas de biquine com os olhos.

Na obra o serviço era duro, no fim do mês a remuneração dava so pra pagar o que devia - a mercearia do mané Quinzinho, um dos poucos do bairro que lhe vendia fiado. O bar da Filó, que lhe vendia uma ou outra cerveja pra pagar depois. Um colega, ou outro que lhe emprestava um tostão qualquer. O seu salário ia embora em condução e em mantimentos. 

Tinha pedreiro que ganhava o bastante para viver bem, e não faltava serviço. Ele se perguntava aonde errava pra levar uma vida dura, difícil. Pois, era um profissional de mão cheia. Criativo, rápido, de bom gosto e sabia fazer do alicerce ao telhado. Então, uma luz se acendeu para suas indagações.

Havia trocado a vida de prestador de serviço, por conta própria pela carteira assinada numa construtora - ter um salário fixo, renda segura. Foi tudo o que buscou, e quando encontrou, estava in loco experimentando na pele o vampirismo dos poderosos, os ricos donos de construtoras.
O desmatamento avançava pelas matas virgens da Paralela, mais de uma centena de prédios sendo erguidos - tudo isso com a legalidade do estado.
Não era um ecologista convicto, mas amava o verde. Várias vezes passava por ali, de ônibus e mantinha o rosto na janela, observando com admiração  aquela área verde, remanescente da mata atlântica, último vestígio do verde que restara do Brasil colônia.

Por ironia do destino, após anos fora do mercado formal,voltara a ter a carteira profissional assinada pelas mãos dos capitalistas da construção civil, os que criam e destroem - tudo pelo dinheiro.
Vender cerveja na praia, numa caixa de isopor pra complementar a renda.
Construindo prédios de luxo para a classe abastada. Mão de obra barata de milionários, empresas de ricas contas bancárias. Difícil entender as engrenagens daquele sistema.

Então, numa atitude de desespero, no dia do pagamento, com outro operário, que tinha procedência duvidosa, armou o assalto do pagamento da peãozada da obra, que era feita em espécie. Sacou de um revólver, comprado ha três dias numa tal feira do rolo, rendeu os homens do pagamento.
Quando estava correndo com os malotes do dinheiro, mais um segurança surgiu do nada e lhe deu um tiro certeiro no peito. E, ali, morreu sobre as cédulas, objeto do desejo, numa agonia vermelha.






















sábado, 5 de novembro de 2011

Contos das Ruas


Pequeno Conto
Das Ruas


Havia decidido cortar caminho atravessando um beco úmido e escuro. O lixo jazia no chão elaborando uma junção deprê. Tinha algumas poças d’água e muitas birras de cigarro – algumas, ainda fumegantes.
A cada passada dada o meu coração acelerava, num míster de euforia/medo e pela possibilidade do encontro com o inesperado – com os que habitam nas sombras. Ficam à espreita e devoram, num segundo suas vítimas.
Orei a Deus pedindo proteção. Estava já no meio do beco, um beco comprido e estreito. Formado pela junção de duas paredes emporcalhadas pelo tempo, por falta de reformas.
Não dava mais pra voltar, segui em frente – com medo, suava frio. Feito uma presa acuada.
Quando já estava ficando livre daquela situação tensa e um tanto solitária – a não ser pela companhia do medo. Então, aconteceu...
O ser das sombras, o predador. Tinha olhos vermelhos, exibia os dentes. Caninos longos e amarelados por falta de zelo. De voz embargada falou:
- Passa a carteira, parmalate otário.
Exibia uma pequena faca enferrujada. Uma faca de cozinha. Sua mão tremia e rangia os dentes.Arrastou-me para fora do beco puxando-me pelo colarinho. Encostou a faca no meu pescoço. Falava, de forma embolada:
- Eu quero fumar, preciso. Cansei de esmolar. Tô no saci, tô na bruxa, tô no bonde.Quero a grana e se tiver corrente ponho na balança. Sou de correria, agora.
Dei a minha carteira. Pedi que tirasse a onça – cédula única - e me devolvesse os documentos. E, assim foi.
Dando passos trôpegos, e de olho em mim, optemperou:
- Você é boa gente, sangue bom. Sempre te vejo pela noite distribuindo sopa e roupa usada para os moradores de rua.
Havia perdido o medo e uma cédula de onça – é isso – freqüento um centro espírita, e faço parte do grupo que faz assistência fraterna aos necessitados. O craqueiro, dependente químico, e agora ladrão levou a minha onça – cédula única, que tinha – era pra pagar a conta de água, que estava atrasada.
Observando-o bem, havia percebido que o boné que ele usava, a camisa pólo ainda bem conservada, o tênnis que calçava e a calça jeans, ainda em conservação de uso foram meus pertences – fruto de doação minha para os moradores de rua, que  havia feito muitos dias atrás.
Naquele momento, uma nuvem cinza havia encoberto a lua. As ruas ficaram mais escuras ainda.Uma chuva fina tilintava na calçada e molhava os meus sapatos. Voltava pra casa a pé, não tinha sobrado nenhum níquel para o transporte. Banhado pela chuva seguia andando, sem pressa pelas ruas da selva de pedra.
Observei que ao longe, do outro lado da rua um grupo de senhoras distribuía sopa para os mendigos. Talvez, um morno copo de sopa estivesse alimentado mais um dos manos do bonde - um de correria, que fica no saci, na bruxa, dando-lhe energias e forças - para  poder fazer mais uma correria. Fiquei aliviado, ao por a chave na fechadura, girar, abrir a porta e estar dentro de casa. Um saci levou minha onça - não me senti um parmalate - branco otário na linguagem dos negros vagabundos -,  mas, sim, um cordeiro.