quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Carta de um Suícida

Adentrou no prédio antigo, de forma insegura, desanimado, com os ombros caídos. Observou com asco as paredes úmidas, escura pelo mofo. Começou a subir os degraus um a um, com desânimo, a mão direita apoiando o corpo cansado no corrimão - era o desânimo em pessoa, se deslocava degrau a degrau, como se carregasse o mundo nas costas.

Ali, estava a porta do quarto dele. uma porta velha, encardida, se quer fechava direito, mesmo assim inseriu a chave, daquelas antigas, compridas, de cano roliço. Girou a chave - esta soltou um ruído particular, um rangido metálico. Ele empurrou a porta devagarinho, como se aguardasse encontrar uma surpresa desagradável.

O ambiente em  semi-penumbra, entrava uma tênue luz por uma pequena janela. Uma tv antiga estava apoiada num banco tosco de madeira. Embalagens de bombons espalhados pelo chão, birras de cigarro inudavam um cinzeiro num canto, outras birras estavam espalhadas pelo piso da pequena sala.
Dali mesmo pôde ver a bagunça que reinava na pequena cozinha - entrão se recordou do tempo em que morava sozinho na cidade grande, era mais um estudante solitário em busca de uma oportunidade para mudar de vida.

Um sofá de tecido sujo  e rasgado estava em frente da televisão, ele não ousou se sentar ali.
Colocou a mão no bolso e tirou da li um papel embrulhado. Era a carta que havia recebido logo pela manhã, ao buscar as correpondências na caixa dos correios, como fazia toda manhã, a carta estava entre os dois jornais e a revista que assinava.

Ao abrir o envelope viu aquela carta, escrita com letras nervosas, grandes e rasbiscadas. E, ali ele falava de sua decisão em abandonar a vida. Dizia que não suportava mais o grande fardo que era a sua existência. Tinha fracassado em tudo que tentara fazer. Era um fracassado, um derrotado - e motivo de vergonha para os muitos vencedores de sua grande família.

Um dos trechos fazia referências aos muitos sobrinhos e sobrinhas quer tinha, e observava que muitos deles ja haviam se formado em faculdades, ja trabalhavam, eram independentes.

Enfim, cansado sentou-se no velho sofá. Por quê havia mandado a chave do seu quarto junto á carta se não estava ali, difícícil de entender.
falou com seus botões: - como poderia mudar de vida se nunca quis estudar, era um folgado. Preguiçoso, indisciplinado. No inverno, vivedo às custas da mãe aposentada, uma senhora com quase setenta anos de idade, acordava ao meio-dia e reclamando do sal da comida e da falta de refrigerente para acompanhar o almoço.

- Achou mesmo que eu queria me matar...
Falou ele surgindo das ombras. Trajava uma bermuda cansada de varal, pés descalços e dorso desnudo. O corpo continuava atlértico. Os cabelos meio grisalhos, e conservava ainda o frescor da juventude no rosto.
- Achei que ia se matar, sim... a carta era muito sincera.

- Não tenho do que reclamar, tenho a vida que mereço. Algumas pessoas escolhem fazer sacrifícios na juventude e ter uma futura vida de conforto no futuro, assim como fez você.
- Sei, e você tratou de viver se enganado todo esse tempo, vivendo nas costas de uma aposentadoria da velha. Agora que ela se foi vive nessa pendenga, e a solução apresentada é dar fim da própria vida.
-Não, você não entendeu o teor filosófico da minha carta. Te escrevi por dois motivos.
-Quais...

- Primeiro é conseguir te trazer aqui, ha mais de oito anos que não nos vemos. Sem um motivo forte você não viria me ver...
Então ele abraçou forte o irmão mais novo. Um abraço de jibóia, sufocante.

- E a outra é te dizer que o seu suicídio foi mais cedo, agora é que começa o meu. Você sobreviveu, acho que eu vou sobreviver, também. Você matou sua juventude. Eu a vivi intensamente.

Algum tempo depois, o seu irmão mais novo deixou o recinto, acreditando que nunca será tarde pra recomeçar. Tirou a carta embolada  mais uma vez do bolso. rasgou-a e a jogou no latão de lixo que ficava em frente ao velho prédio, vencido pelo tempo. A madrugada seria fria, um vento silencioso beijava o seu rosto, agora, seus passos eram apressados pela calçada emporcalhada pelo lixo social que reina em toda grande cidade.
























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