terça-feira, 22 de novembro de 2011

Terror & Suspense



Um Furo de Reportagem

O chefe de jornalismo do Folha do Povo era um homem elegante. Trajava sempre camisas de esporte fino, calças Familly Teen - roupa  encontrada em lojas de grife. Usava sapatos da famosa marca Senior Boot, a marca de sapatos predileta dos artistas da tv e da música. Ironicamente, quem lhe dava toda essa elegância era o cargo de chefe de jornalismo de um folhetim policial, lido pelas camadas menos favorecidas - por que a única coisa que pobre lê  é jornal de crimes, ou notícias de futebol.

Manuel gritou pelo nome da mulher mais jovem e mais bonita da redação - ela estava sentada numa mesinha, confabulando com um colega de redação. Ao ouvir o seu nome ser gritado, de forma tão explosiva, tomou um susto, erguendo o rosto direto para sala do seu chefe. O seu coração deu descabelada palpitação - o que viria a seguir?- Refletia. O velhote tinha fama de taradinho-,andava cheio de galanteios pro lado dela. Vivia insinuando que àquela jornalista da tv, e tantas outras jornalistas aconteceram depois que passaram pelas suas mãos - o que realmente, ele queria dizer ao dizer literalmente " pelas suas mãos"?
- Sabia, que sou, Anna,  um homem de bom gosto, e acho que neste jornal tem alguém de gosto semelhante ao meu.
Ana não tentou se quer saber o por quê daquela observação . Arrastou uma cadeira e se sentou à sua frente.
Ele mais uma vez, chamou-a pelo seu nome, e elogiou:
Sabia que você é linda, linda de morrer...
Ela desconversou. Manteve as pernas cruzadas, não ousaria fazer como algumas colegas de redação, que cruzavam e descruzavam as pernas para deixar o velhinho empolgado e ter qualquer tipo de favorecimento - tipo uma folga extra na segunda-feira, ou um aumento de desalário. Ele lançou àquele velho olhar de lobo tarado. Primeiro no seu excepcional par de seios revelados por insinuante decote, depois para suas pernas. Você se chama Anna Linda, mesmo, ou o linda é so...





Anna Linda, era esse mesmo o nome dela, de batismo. Muitos brincavam com seu nome, pois, faziam referências à sua imagem - era linda, linda de morrer, como se dizia. Gostava de ler e foi muito dedicada aos estudos. Sempre tirava boas notas. Estudou inglês e espanhol, como forma de ser uma profissional melhor preparada. Não satisfeita, fez um curso de fotografia, e arriscava fazer alguns desenhos - ela era assim, de tudo queria fazer um pouco.
Estagiava num pequeno jornal  popular, mas queria chegar à tv, quem sabe ser  apresentadora de telejornal, ou ser da equipe de jornalismo de rua. Queria aparecer, ser famosa, e , procurava um furo de reportagem para sair do ostracismo, deixar de ser mais uma estagiária gostosona, cortejada, desejada pelos velho e decadente chefe de jornalismo daquele folhetim, que só era muito lido pelos inúmeros crime que eram registrados em suas páginas - espremendo -o, correria sangue.

Jornal feito para o povo, para os que lêm as páginas de esportes e policial. Ela estagiava ao lado de   Eleno  João, mais conhecido como Jojo, conhecido jornalista policial. Tinha na sua equipe o fotógrafo Zezeu - o homem que mais registrava presuntos na violenta cidade grande. Vísceras expostas pelo golpe da faca, facão. Tiros na testa. Braços decepados e corpos esmagados por acidentes dos mais diversos - "na lata" - era assim que dizia.
Fotos explícitas, com gente vítima de todo tipo de crime, dos mais simples ao mais bárbaro ato contra a vida humana. Esquertejados pobres, e bilionários.
- Gosto do que faço, e estou no rastro do psicopata do Lobato. Sabe, como é, eu queria no início da carreira ser fotógrafo de celebridades, e fazer fotos de mulher pelada, não deu. Cheguei aqui com vinte anos, depois de um curso de fotografia. Fui ficando, fui ficando, e, hoje ja tenho uma dezena de anos fotografando a morte.
Dizia, Zezeu, enquanto arrumava o seu equipamento pra mais um dia de batalha. Vez ou outra, atendia às muitas ligações no celular. Anna tinha a mania de ficar arrumando os cabelos. Fios pendiam de sua testa, cobrindo-lhe os olhos azuis. Vestia-se com fina elegância, saias curtinhas, ou calças jeans justas que desenhavam suas formas. Tinha uma bunda formosa, grande, um par de coxas roliças, longilíneas. Quadril largo, insinuouso - pendente por uma cinturinha fina - de violão.
Uma mulher que era falsa magra, pois, onde devia ter carne, tinha.

Zezeu a esgueirava com olhares discretos, ora no lindo par de seios - eram de forma de avelã, durinhos e estavam sempre desprovidos da proteção de um sutien. Os biquinhos sobressalentes ao tecido. Ele se quer mexiam quando ela andava. Várias de suas blusas tinham decotes generosos que os deixavam quase à vista. Quando estava assim na redação era um senhor nos acuda para todos os tarados de plantão - do porteiro, segurança, motorista aos colegas de profissão. E o velhote tarado, ah, esse seguia da porta de entrada á sua sala de olho no par de seios - seguia se chocando com as pessoas que transitavam pela sala, de olho nos seios dela.
- para onde vamos, mesmo...
Indagou a deliciazinha para o fotógrafo, engolindo na sua pronúncia a interrogação, uma frase solta, palavras delizadas.
- Pra um motel - disse o fotógrafo sem pestanejar.
- O quê, deixa de graça, falo qual vai ser o nosso servicinho hoje...
- Falo sério, ele atacou de novo, fez mais uma vítima.
- Vai economizar nas fotos, dessa vez, não vai... não gosto  muito defotos tão explícitas nos meus textos. Odeio corpos abertos vertendo sangue. Sou uma pessoa sensível...
- Ora, querida, acha mesmo que os leitores  lêem o que escreve, eles adoram é ver fotos de gente morta. Um , ou outro pode ate  ler, para saber dos detalhes da morte do infeliz, mas, o que chama o leitor pra matéria são as minha fotos. O povo é mórbido, sádico.
Anna Linda  fez um muchocho com os lábios, recusando olhar nos olhos do colega de trabalho, pegou a sua bolsa, ali tinha o pequeno gravador, canetas e um bloquinho de anotações, mais o netbook - ainda não ganhava o bastante para ter um tablet, como os demais companheiros de redação. Seguiram para o motel. O carro da redação entrava pelas ruas do subúrbio ferroviário, ruas de terra de chão, casebres de gente pobre nas lateriais. Senhoras gordas desfilavam com suas crianças barrigudas, sujas, de pés descalços e nariz remelento. Porcos funçavam num lixão.

O motel ficava num local ermo, sinistro - não entendia como casais poderiam frequentar tal local.
Ali, no quarto 23 estava o corpo de uma linda mulher. Cabelos loiros, de corpo escultural. Seu corpo apresentava várias perfurações, de objeto contundente, pontiagudo. estava semi-nua, parecia que foi assassinada antes mesmo  da prática do sexo. Tinha um furo na nuca -, sinal de que fora alvejada de forma covarde, por trás. Num local do corpo que a impediria de gritar.
A polícia técnica fazia o seu trabalho, protegia o ambiente da possibilidade de perda de provas, ou de violãção do local do crime. Zezeu era velho conhecido do pessoal da polícia técnica. Tinha livre acesso. Zezeu não deixava nada espacar à sua lente nervosa. Cli,clic, clic, clic...sem parar. O delegado Delgado de Aguiar colhia depoimentos dos funcionários. Seria difícil pegar o culpado.

Fora a mulher assassinada  quem pagou a conta, de forma antecipada, no cartão. Havia trazido o seu assassino no seu carro - o carro estava na garagem - o assassino saíra andando. Nada de câmeras no motel - dizia um funcionário que os clientes não gostavam de serem filmados. O nome do motel dizia tudo Paraíso dos Amantes - e em letras garrafais tinha um neon que dizia - Aqui sua privacidade é total.
Anna Linda, entendia, agora o por quê da sua localização ser num local tão ermo, até perigoso para assaltos.
- E, então, mais uma vítima, mais uma matéria com o óbvio ululante. Ele continuará impune matando belas mulheres, e a polícia segue sem pistas. Colheu algo que possa nos dar uma luz nesse caso...

Indagou Zezeu para a colega. Esta digitava, de forma ágil no netbook, e colhia informações adicionais que foram feitas anteriormente no seu bloquinho de anotações. Anna lhe respondeu que daquela vez, parece que havia algo interessante. Foi informada pela camareira que ao entrar no quarto para arrumar a cama, logo que o casal entrou, como das outras vezes, ele se mantêm no banheiro - um claro sinal de que não gosta de aparecer para os funcionários.

- Normal, um criminoso tende a proteger a sua identidade.
- Nada, não é so isso, esta camareira, assim como a do motel da orla, notou que ele usava um paletó fino, e sapatos lustrosos, da  marca Senior Boot.
- E isso ajuda em quê, muitas pessoas usam essas coisas numa cidade como essa cheia de shopping, lojas de grife. É como caçar um criminoso por que tava com uma camisa da His ou uma bermuda da Ciclone.
- Sei, mais isso revela que estamos no encalço de alguém de boa condição social, ja fica descartada a hipótese de que o paletó visto pela camareira no crime passado, como o paletó do marido da outra vítima, que ele podia ter encontrado no carro da vítima, pra dar baculejo em busca de algo de valor. A peça de roupa era dele.

Anna Linda queria fazer sucesso na carreira, era visível que perseguia isso. Tinha muita ambição, mas não era de passar por cima dos outros para tal. Teoricamente tinha total preparo - passou a ver de verdade, como era a vida de jornalista, quando foi pras ruas, quando passou a fazer parte da equipe de jornalismo de um jornal - o mais popular dos populares. Ali, notícias de estupros, assasssinatos, sedução de menor, incesto dos mais diversos, seguido de gravidez da filha menor - pais tarados, essas coisas. Crimes diabólicos, de todos os tipos - incluindo, vários esquartejamentos.




- Sei, e quer fazer o quê, pegar o tal psicopata do Lobato?

Disse, Zezeu, ja visualizando previamente as fotos tiradas no local de crime na sua digital. Ali, escolhia as fotos que iram compor a matéria - isso se o chefe não resolvesse meter o dedo.
A matéria saiu, falando de mais um crime no subúrbio, e nada acrescentou à carreira de Anna Linda.
Um psicopata ali, agia. Várias mulheres mortas, de forma misteriosa. Sempre por objeto contundente, cortante e perfurante. Primeiro, um golpe na garganta pra vítima não gritar. Depois o seu corpo era mutilado.

Por vários meses o criminoso vinha agindo, e a polícia não conseguia pegá-lo. De provas, so algumas birras de cigarro de menta de uma famosa marca. Ele não deixava provas outras. Nada de impressões digitais - parecia ter todo o cuidado em apagá-las, era o que parecia. Nada ficava dele em corrimãos, botões de elevadores, maçanetas de portas - nada, nada. Parecia pensar assim: " Todos os merdinhas desta cidade gostam de usar marcas conhecidas."
Anna Linda encontrou o meio para arriscar pegar o psicopata, tramou com o fotógrafo. Esse topou ajudá-la. Vivia de bar em bar e nos locais mais chifrins daquele subúrbio para poder atraí-lo. Não deu certo. Foi mais além, ja que não era de desistir facilmente. Alugou uma casa nas redondezas. A sua beleza estonteante correria de boca em boca, e poderia funcionar assim para ser a isca perfeita. Não deu certo. Depois de 04 meses custeando o aluguel junto com Zezeu, desistiu. Teve que ter habilidade mil pra se livrar dos assédios dos conquistadores baratos dali. Velhos comerciantes lhe ofereceram uma vida de conforto - outros achavam que iria conquistá-la por ter uma moto de 125cc com prestações para 05 anos.

Foi frustrante, mas entendia que vida de jornalista era assim, mesmo. Cheia de sacrfícios, e algumas estratégias que nem sempre davam certo. O sabor do almoço dos pequenos restaurantes do lugar era de papelão.
Foi comprovado que três das mulheres assassinadas eram prostitutas. Uma trabalhava numa boite na Av. carlos Gomes, famoso point de travecos, lésbicas e simpatizantes aos sábados, à noite. Duas eram de pista ,na orla.  Anna Linda estava pensando em ficar entre as prostitutas na orla e na Av. carlos Gomes. 06 meses depois, nada. Desistiu. O seu salário foi embora com estadias em hotéis baratos para pernoite, jantares em restaurantes noturnos, desses baratos, táxi. E tudo o que recebera do chefe foi uma gargalhada de deboche. Agora, estava dura e era alvo de gozação dos colegas de redação. Diziam dela : "A investigadora linda, linda de morrer." "Fez muitos programas?" - gozavam outros. Em dez meses o assassino recuara. Teria sido preso por outra modalidade de crime, ou fugira da cidade? indagavam.
Meses depois. 2:oo h da manhã, O telefone tocou, tocou, tocou,tocou...Até que Ana acordou. Com voz embargada, sonolenta, falou o "alô" mais rouco de sua vida.
- Sei que você está ha meses atrás de um furo de reportagem , não é verdade?
- Quem está falando?
- Um furo de reportagem pode mudar a sua vida profissional?
- Escuta aqui...não tem o que fazer, não? Passar trote uma hora dessa da madrugada...
- Falo do pisocopata. Ele voltou a atacar. Sei como lhe dar pistas.
O estranho do outro lado da linha foi convincente o bastante para retirá-la da cama ás pressas. Arrumou os cabelos passando as mãos. pegou a bolsa. Ligou para o fotógrafo, marcando o local do encontro, onde estaria o estranho que falaria sobre o psicopata - daria pistas para que a sua identidade fosse revelada, talvez. Decidiu arriscar.
Ela chegou de táxi. O local era ermo. O motorista mentiu quando disse que ficaria aguardando. Assim que ele desceu arrancou com os pneus cantando. Normal, vida de jornalista era isso mesmo, o perigo, o desconforto e péssimos salários. Estava no Lobato, na prainha. A água do mar  exalava um aroma fétido. As ruas eram escuras. Barracos  formando becos sinistros. Havia uma praça cercada por amendoeiras. Um silêncio sepulcral dominava o ambiente. Anna Linda estava tensa, amedrontada.
Então, ele chegou antes do fotógrafo.
- Eu conheço jornalistas, sei que deve ter chamado o fotógrafo para para fazer um registro...como vou confiar em você assim?
- Não o chamei, escute, eu até pensei, mas ele se quer atendeu o telefone...
-Você quer fazer sucesso como jornalista. Conheço jornalistas, querem aparecer mais do que a matéria...
- Escute amigo, se não tem nada de útil, vou-me...
- O jornalista,bah. Vocês são de ego do tamanho do mundo. Boa merda é um fotógrafia não é? Quem é o fotógrafo? Apenas um profissionalzinho de merda que fotografa vítimas sanguinolentas...
- Eu vim atrás de um furo de reportagem, não de queixumes. Por acaso, você é , ou tentou ser um fotógrafo?
Então, a lua cheia foi a única testemunha daquele crime. Logo cedo, a imprensa ja fotografava a jovem jornalista, que era linda de morrer  e que andava em busca de um furo de reportagem, e agora tinha um furo no peito. Apenas, mais um crime do psicopata- ou quem, sabe um furo de reportagem.






































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