sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Lisomem da Santa Mônica

Numa rua curta, sem saída, próximo da igreja dos Capuchinhos, ali morava uma família estranha.
Viviam isolados da convivência com a vizinhança. Certa  noite, na madrugada, numa das ruas próximo da igreja dos Capuchinhos viram uma figura estranha urrando, seguindo em  descabelada carreira pelas ruas desertas. Era madrugada escura, o vento açoitava as copas das árvores. Disseram que parecia uma cena perfeita para um filme de terror - naquela noite ninguém se machucou, o bicho não atacou - mas a sua fama cresceu. Todos passaram a ouvir a história do lobisomem da Santa Mônica, que vivia pelos arredores da igreja dos Capuchinhos.
A história do lobisomem dos Capuchinhos ganhou corpo na voz do Joaquim, conhecido como Joaquim Madruga, um vigia noturno - não levaram muito a sério porque ele gostava da manguaça.
A coisa começou a mudar, quando as suas vítimas começaram a aparecer. Mulheres eram atacadas, tinham suas vestes rasgadas, outras eram escarreiradas, estudantes, crianças. A partir das 23 h, o terror começava.
O boato correu e saiu no jornal da cidade e nas rádios. Todos falavam a respeito do lobisomem da Santa Mônica, que rondava pelas ruas que circundavam a igreja dos Capuchinhos. As crianças viviam apavoradas, as mulheres assustadas e reduziu de forma assustadora a frequência escolar das adolescentes nas aulas noturnas. Suspeitavam da família de estranhos. 
Era mais uma dia, na igreja dos Capuchinos, um momento insólito interrompe a refeição do padre.
- Padre, eu moro aqui do lado...
Soou a voz quase abafada do jovem esquálido, de pele amarelada, por trás do padre.
- Mas, como entrou aqui, quem é você...- disse o padre, assustado, tinha os talheres nas mãos, fazia a refeição matinal. Estava sozinho na casa paroquial.
- Na verdade, nem sei como entrei aqui, quando dei por mim, estava aqui dentro. Acho que pulei o muro, sei lá, à noite e adormeci no pártio.
- Você tentou roubar a igreja, não temos posses, não guardo dinheiro na casa paroquial. Não tente contra minha vida, não é que eu tenha medo de morrer, mas não quero ter uma morte trágica.
- Já ouviu falar do lobisomem, padre...
- Já, bobagem, crendice popular.
- Não é, não, o lobisomem existe, e ele é diferente dos lobisomens dos filmes, ele é inteligente, quando mata, esconde os corpos para não chamar muito a atenção.
Então, ele relatou para o padre as muitas histórias que ouvira contar nos últimos tempos. falou do sumiço do vigia noturno, o biriteiro que, desde que vira o lobisomem pela última vez, desaparecera misteriosamente. Falou da esposa do Val da quitanda. os dois viviam brigando e ela ameaçava ir embora. Ela não foi, dizia. Foi mais uma vítima do lobisomem. Os ladrões do bairro foram todos vítimas do bicho, foram perseguidos durante à noite e foram esquartejados por garras ferinas. Algumas estudantes que estão na lista de desaparecidos - todas vítimas do animal assassino, meio homem, meio bicho.
- Não me interessa saber dessas coisas, meu filho, por favor, queria se retirar. Não entendo como pôde ter pulado um muro tão alto, um ser humano comum jamais conseguiria sem usar uma escada, ou se escondeu durante a missa, e ficou dentro da igreja...
- Não, eu pulei o muro, mesmo.
- Tá, so falta me dizer que é o lobisomem da Santa Mônica. - Disse o pároco, dando uma risada abafada, rouca.
- Sempre adorei coisas do outro mundo, tenho uma atração natural pelo sobrenatural. ja passei noites por entre as tumbas do cemitério, so para sentir aquela atmosfera sinistra, macabra. Ia de túmulo em túmulo, lendo os nomes dos mortos, olhando suas fotos e chamando pelo nome de cada um.
- Minha Nossa Senhora, que coisa sinistra, isso não é coisa de um ser humano normal.
- Eu moro na rua sem saída, sou o filho segundo mais velho, o senhor sabe..
- Ah, sei, você são estranhos, vivem trancados em casa. Pela madrugada se ouve ruídos estranhos vindo da casa de vocês, até parecem urros. Não me diga que você é o ...
- Tenho um irmão doente, ele tem crises horríveis, se contorce na cama, baba...
- Caso não queria se retirar, vou chamar à polícia.
- Tudo o que eu queria ver é como acontece. Ver os pelos crescendo, as unhas saindo e o corpo se metamorfoseando na fera noturna.
- Por quê pede isso...aqui é a casa de Deus, não é a casa das coisas sinistras.
- Eu tenho uma sensibilidade acentuada, padre, entre os muitos suspeitos, acabei descobrindo que o lobisomem da Santa Mônica é o senhor.
- Não seja tolo, todos diziam que era o vigia bebum, e ele sumiu misteriosamente, ainda é um forte suspeito. Mas, depois que descobri que vocês são sete irmãos, e que tem um primogênito que nasceu sete anos depois, um tocado pela maldição do lobisomem, assim conta a lenda, não é verdade...
- Sei, padre, casei tudo isso, e descobri, também que foi a casa paroquial que nos procurou e alugou a casinha da rua sem saída, descobri que os imóveis pertencem à igreja, não é verdade...O senhor ficou sabendo de nossa família e fez a caridade, o senhor sabe, como é. Fez questão de nos tirar de oito quarteirões e nos colocar ao lado da igreja.
- Mas, afinal de contas quer provar o que...
- Eu quero ver a transformação, como nos filmes, padre..Estou aqui, porque a tolerância das famílias das vítimas do lobisomem acabou. Invadiram a nossa casa, mataram meu irmão, de forma cruel, padre.
- Filho, acalme-se a maldição acabou.
- Não, padre, você é o lobisomem. Veio da Itália, por proteção, um escândalo desse abalaria mais ainda ainda a igreja, ja tão abalada pelos casos de pedofilia. E, foi mandado para cá.
Então, a sua fúria cresceu, a adrenalina inundou o seu sangue. E, como num filme do cinema americano, as orelhas do padre ficaram pontiagudas, sua epiderme foi tomada por camadas de pelos escuros, grossos, asquerosos, como pelos de rato de esgoto. Sua mandíbula foi crescendo, de forma excepcional, ganhando a forma de focinho de um lobo. Os olhos ficarma vermelhos. dentes pontiagudos, de besta se desenharam na sua arcada dentária. As unhas se agigantaram, tornando-se garras que dilacerariam músculos e ossos como se fossem papel. Um urro surgiu de sua garganta de bicho inundando a igreja, chocando-se nas paredes e ribombando, como um sino estridente. A fera, estava ali, na sua frente, o lobisomem da Santa Mônica.
- Maravilha, fico emocionado...- disse o garoto, com frieza, sem tremer.
- Tolo, é o seu fim, vou transformar seu corpo numa pasta disforme com as minhas garras - disse o padre lobo, esta última frase, antes que se transformasse num lobo homem por completo. Mas, teve surpresa maior, ao ver que o menino amarelo também sabia brincar de lobo.
- O meu irmão doente é mais velho do que eu, eu sou o sétimo filho, padre. Eu não quero ter concorrentes aqui na Santa Mônica, mês que venho entrarei para o seminário, quero ser padre, também - vociferou com desdém, deboche -  o garoto, enquanto seu corpo se transformava num lobisomem. E, ali o lobo mais jovem, com certeza ganharia aquele embate raivoso. A maldição do lobisomem da Santa Mônica sobreviveria por mais longos anos.

















































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